Cuba, o turismo alarga fronteiras

Elder Lins Teixeira
Consultor e professor emérito da UPE

Publicação: 21/06/2016 03:00

Nossas avaliações são sempre fruto do confronto entre expectativas e experiências. Nesse sentido é que ao visitar Cuba pela primeira vez na década de oitenta tive uma grata surpresa. Era uma viagem inesperada, acabara de receber um convite para, como Operador de Turismo, representar, a partir do Recife, o programa de voos charter semanais lançado pela Vasp para Havana. Deveria conhecer o destino que iria vender, e lá fomos nós, eu e Eliane, integrando uma comitiva de agentes de viagem de diversas partes do Brasil. Confesso que de imediato a ideia não me encantou, esperava encontrar um país que, assolado pela pobreza e tirania dos governantes, não oferecesse as experiências gratificantes desejadas pelos viajantes. Daí a minha baixa expectativa, confrontada com uma realidade que me surpreendeu. Tiradas de lado as considerações políticas e ideológicas, Cuba demonstrava o desejo de desenvolver o turismo, atraindo hotéis internacionais, ordenando suas belas praias e apresentando todo um patrimônio cultural e arquitetônico de beleza singular. É certo que os serviços começavam a se organizar ainda sob a tutela do Estado e os salários bastante reduzidos eram amenizados com as cadernetas de racionamento que tive a oportunidade de conhecer e, para os que atendiam ao turista, pelas gorjetas que se transformavam no verdadeiro ganho. Para o turista, porém, reservava-se o melhor que poderia ser proporcionado: bares e restaurantes famosos por onde pontificaram, entre outros, Ernst Hemingway, com seus drinques preferidos; museus; galerias de arte, cabarés com show internacionais, e até mesmo lojas, de acesso exclusivo aos visitantes e diplomatas, onde poderiam ser encontrados diversos produtos importados.  
Ao regressar conseguimos transformar o produto em um verdadeiro sucesso de vendas enquanto durou o programa. Posteriormente, já como turistas, retornamos ao arquipélago, distribuindo a permanência entre Havana, Varadero, já com diversos resorts de categoria internacional, e a paradisíaca Cayo Largo. O turismo já tinha tomado força, pequenos artesãos vendiam sua produção, alguns estabelecimentos domésticos ofereciam refeições e os trabalhadores do setor já se permitiam acumular algum recurso pela força de sua produção e das gorjetas recebidas em moeda estrangeira. Não havia mais discriminação nas lojas de importados. Naquela ocasião constatei que o turismo iria apressar a abertura política e econômica cubana. O tempo passou e assistimos agora a um grande movimento nesse sentido e mais uma vez o turismo simboliza esse estágio com a chegada de levas de norte americanos e de seus cruzeiros marítimos, entre turistas de diversas outras nacionalidades, intensificando o intercambio de culturas e ideias, ampliando o relacionamento entre os povos e o que é mais importante, injetando recursos na economia no país. É preciso, o necessário cuidado para que o afã de multiplicar os fluxos turísticos não contribua para a deterioração de um cenário que tem em sua natureza e seus belos arruados o grande patrimônio e que a sua exploração possa realmente se reverter de forma sustentável em benefício do povo cubano. Vale uma visita...