O barril está vazio
A morte do ator mexicano Roberto Bolaños comoveu fãs no mundo inteiro, mas Chaves segue encantando crianças e adultos, como há 30 anos
Luce Pereira (texto)
lucepereira.pe@dabr.com.br
Publicação: 30/11/2014 03:00
Uma notícia veiculada sexta-feira mexeu com mulheres e homens maduros de várias partes do mundo. Eles eram crianças quando certo humorista mexicano conquistou o Brasil na pele do atrapalhado Chaves, uma personagem tão marcante que conseguiu a façanha de atravessar 30 anos de exibição no país, dividindo o interesse de milhões de meninos e meninas por tecnologia. Todos adoram computadores, tablets e smartphones, porém continuam amando o garoto com calças curtas, suspensório e chapéu de aviador. A notícia era: morre Roberto Bolaños, aos 85 anos. Muitos pais ficaram pesarosos, mas ao menos não precisaram ver a mesma tristeza estampada no rosto de filhos muito pequenos, apaixonados pelo menino e sua turma. Para os fãs novinhos, nada vai mudar: daqui a pouco, Chaves aparecerá dentro do barril, dando nó no juízo dos moradores da vila e engraçado como sempre.
Bolaños se foi sem saber dizer de onde vinha tanto e duradouro encantamento por sua mais famosa criação, mesmo com todos os recursos empregados em cena estando completamente ultrapassados. Charles Chaplin, outro grande gênio da comédia, teria a mesma dúvida, apenas porque não é possível explicar fascínio senão como um caminho por onde transitam emoções verdadeiras, no qual grassam simplicidade, amizade, alegria e pureza, não por acaso, os pilares do universo infantil.
Surpreendentemente, o programa foi criado para adultos e acabou chegando ao coração de pais e filhos. Mas, importam menos os motivos que levaram o comediante a criar empatia tão robusta com os dois públicos e mais as muitas gargalhadas dadas a cada episódio do programa. Sempre foram impagáveis.
Do mesmo jeito que Chaves não atinava para o resultado de suas ações, seu criador e intérprete não se dava conta de que brigava com gigantes do segmento de humor, na medida em que o programa seguia conquistando audiência. Mas a indústria, sim, percebia que tanta devoção às personagens poderia render fortunas, com muitas chances de a fonte demorar demais a secar. Ela esbanja saúde até hoje, a julgar pela quantidade de produtos que são despejados no mercado, desde bonecos a roupas e objetos com a figura da personagem ou de todas da série. Eles viraram objeto de desejo de admirável exército de fãs e não apenas os pequenos: foram vistos em muitos dos dez mil marmanjos e respeitáveis senhoras que queriam homenagear os 40 anos de carreira do artista e compareceram à cerimônia no Auditorio Nacional da Cidade do México, em 2012. Bolaños chorou como um menino.
Talvez chorasse, também, se estivesse em meu lugar, carregando pelas mãos uma menina de quatro anos através de imensos corredores apinhados de brinquedos, em uma das maiores lojas de atacado do Centro do Recife. Foi na tarde de quinta-feira e, nem sabíamos, faltava pouco para o maior comediante do México ir embora. De repente, um grito maravilhado: “Olha Chaves!”. Estava eleito o presente de Natal e a menina, como milhões de outras pelo mundo, fez com ele um pacto de carinho eterno. Tem sido assim, desde que aquele garoto apareceu pela primeira vez no barril transformado em casa.
Nem Shakspeare, nem Chaplin, mas Roberto Bolaños também conhecia a arte de encantar. Deve ter inventado para si mesmo e para esta hora, o bordão que mais lembrava o herói atrapalhado Chapolin, outra de suas criações: “Não contavam com a minha astúcia”. Não mesmo. Não agora.
Bolaños se foi sem saber dizer de onde vinha tanto e duradouro encantamento por sua mais famosa criação, mesmo com todos os recursos empregados em cena estando completamente ultrapassados. Charles Chaplin, outro grande gênio da comédia, teria a mesma dúvida, apenas porque não é possível explicar fascínio senão como um caminho por onde transitam emoções verdadeiras, no qual grassam simplicidade, amizade, alegria e pureza, não por acaso, os pilares do universo infantil.
Surpreendentemente, o programa foi criado para adultos e acabou chegando ao coração de pais e filhos. Mas, importam menos os motivos que levaram o comediante a criar empatia tão robusta com os dois públicos e mais as muitas gargalhadas dadas a cada episódio do programa. Sempre foram impagáveis.
Do mesmo jeito que Chaves não atinava para o resultado de suas ações, seu criador e intérprete não se dava conta de que brigava com gigantes do segmento de humor, na medida em que o programa seguia conquistando audiência. Mas a indústria, sim, percebia que tanta devoção às personagens poderia render fortunas, com muitas chances de a fonte demorar demais a secar. Ela esbanja saúde até hoje, a julgar pela quantidade de produtos que são despejados no mercado, desde bonecos a roupas e objetos com a figura da personagem ou de todas da série. Eles viraram objeto de desejo de admirável exército de fãs e não apenas os pequenos: foram vistos em muitos dos dez mil marmanjos e respeitáveis senhoras que queriam homenagear os 40 anos de carreira do artista e compareceram à cerimônia no Auditorio Nacional da Cidade do México, em 2012. Bolaños chorou como um menino.
Talvez chorasse, também, se estivesse em meu lugar, carregando pelas mãos uma menina de quatro anos através de imensos corredores apinhados de brinquedos, em uma das maiores lojas de atacado do Centro do Recife. Foi na tarde de quinta-feira e, nem sabíamos, faltava pouco para o maior comediante do México ir embora. De repente, um grito maravilhado: “Olha Chaves!”. Estava eleito o presente de Natal e a menina, como milhões de outras pelo mundo, fez com ele um pacto de carinho eterno. Tem sido assim, desde que aquele garoto apareceu pela primeira vez no barril transformado em casa.
Nem Shakspeare, nem Chaplin, mas Roberto Bolaños também conhecia a arte de encantar. Deve ter inventado para si mesmo e para esta hora, o bordão que mais lembrava o herói atrapalhado Chapolin, outra de suas criações: “Não contavam com a minha astúcia”. Não mesmo. Não agora.