Renata driblou as dificuldades Ela nasceu com Down. Aprendeu a ler aos 19 anos. E é a única a representar o estado na Olimpíada do Conhecimento do Senai

Marcionila Teixeira

Publicação: 20/06/2012 03:00

Renata Araújo, 30 anos,
fez o curso técnico de
panificação oferecido
pelo Senai, um programa
de ações inclusivas (TERESA MAIA/DP/D.A.PRESS)
Renata Araújo, 30 anos, fez o curso técnico de panificação oferecido pelo Senai, um programa de ações inclusivas

Nunca diga que não tem jeito. Todos os dias, Renata Araújo dá um drible nas impossibilidades da vida. Seu mais novo desafio é usar as mãos como aliadas, como ponte para as próximas conquistas. Em uma cozinha com temperatura agradável, ela desenha o formato do pão sobre um balcão impecavelmente limpo. Parece costurar um sonho, mas o que ela quer mesmo é sentir o gosto da conquista. Renata tem 30 anos e nasceu com Síndrome de Down. Diante das impossibilidades impostas pela doença, aprendeu a ler e a escrever bem mais velha, aos 19 anos. Agora dá mais um golpe no tipo de vida que a síndrome quis lhe impor. É a única pernambucana escolhida para representar o estado na Olimpíada do Conhecimento do Serviço Nacional de Aprendizagem Industrial (Senai), que acontece em novembro, em São Paulo.

Em três dias, Renata vai competir com representantes de nove estados brasileiros. Todos os participantes que disputarão com Renata têm Down e precisarão provar que são os melhores nas técnicas de panificação. Renata ganhou a vaga depois de se destacar entre 20 alunos com Down das dez escolas técnicas Senai do estado. Se conseguir o mesmo feito nacionalmente, parte para uma disputa internacional. O treinamento intensivo começou em abril na unidade do Senai em Paulista. Acontece de segunda a sexta-feira, das 9h às 16h. Como mora no Arruda, no Recife, ela sai cedo de casa, pega dois ônibus junto com a mãe, Suely Araújo, e em pouco menos de uma hora chega ao destino. “Sou vitoriosa. Vou ganhar”, anuncia Renata, sem qualquer sinal de baixa-estima.

Competição inédita

Essa é a primeira vez que a instituição de educação profissional promove a competição para pessoas com deficiência. Desde 2000, o Senai tem o Programa Senai de Ações Inclusivas (Psai), que oferece bolsas de cursos técnicos para pessoas com deficiência. Até o ano passado, a participação desse grupo ficava restrita às mostras Psai, que aconteciam paralelamente às olimpíadas, agendadas a cada dois anos. Agora tudo mudou. “Acho que o prêmio mais importante para todos os alunos, sejam especiais ou não, é a própria superação”, explica Vicente Calazans, da escola de Paulista.

A participação na competição seguirá um modelo. Os competidores com Down disputarão panificação. Quem tem deficiência auditiva, segue para vestuário. Na competição de informática, entram as pessoas com deficiência visual. Na mecânica de auto, participam pessoas com deficiência física (cadeirantes). “O estado pode mandar uma pessoa por categoria, mas apenas Renata vai representar Pernambuco neste primeiro evento”, explica Vicente Calazans. Renata e a mãe dela, Suely, acham que já são vencedoras, seja qual for o resultado em novembro. “Para mim, minha filha é normal. O mais importante não é saber se ela tem Down ou não. O importante é ser feliz”, ensina Suely.