Travessia em barcos coloridos Artista está pintando embarcações que levam recifenses e turistas do Marco Zero ao Parque das Esculturas

MAIRA BARACHO
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Publicação: 30/03/2014 03:00

Manoel Quitério procurou os barqueiros, comprou o material e ofereceu sua mão de obra para dar uma nova cara ao passeio no Bairro do Recife (FOTOS: EDVALDO RODRIGUES/DP/D.A PRESS)
Manoel Quitério procurou os barqueiros, comprou o material e ofereceu sua mão de obra para dar uma nova cara ao passeio no Bairro do Recife
A tradicional travessia de barco que leva recifenses e turistas do Marco Zero ao Parque das Esculturas não é mais a mesma. O trajeto ganhou novas cores e, mais do que barcos, verdadeiras obras de arte flutuam pelo Rio Capibaribe levando passageiros e trazendo inspiração aos visitantes. A ideia faz parte do projeto do artista plástico Manoel Quitério que, provocado pela monotonia do ambiente da cidade, resolveu interagir com seus elementos através de intervenções artísticas.

Quitério acredita que o Recife vive um momento novo, de autoconhecimento, onde os moradores da cidade olham mais para o espaço coletivo, enxergam a cidade de outro jeito, se permitem pensar em diferentes meios de transporte, percebem o rio, ocupam, participam. Seguindo o fluxo do movimento que considera natural, ele defende que essa nova relação entre pessoas e cidade reflete em mais qualidade de vida. “Acho que isso tudo faz parte do seu cuidado com a cidade, o jeito como você trata o seu lugar. É como no interior onde as pessoas se juntavam para pintar as fachadas das casas. Acho que isso mexe com a autoestima da cidade”, explica o artista.

A vontade de aproximar sua obra do espaço urbano é uma constante do artista, que leva na bagagem outras intervenções em muros e parques públicos. Para ele, a postura diante da cidade também é parte de seu papel como artista. “Acho que é uma forma de exercitar a ideia do faça você mesmo, uma coisa muito forte na década de 1970, principalmente da música, mas que se perdeu um pouco. É importante essa consciência de que você faz parte do lugar e eu acredito que esse papel é muito da classe artística. Além disso, os espaços destinados à arte tendem a segregar demais e essas intervenções ajudam a aproximar as pessoas da arte”.

Quatro barcos integram o projeto de Quitério, que procurou os barqueiros e comprou sozinho os materiais que estão sendo utilizados nas intervenções. Nos traços escolhidos, Manoel tenta imprimir um pouco das suas reflexões sobre o modo como as pessoas vivem. “Escolhi elementos como despertador e telefone, coisas que representam um estilo de vida que a gente assimilou como indispensável quando na verdade não é”, reflete o artista.