O Mazzaropi da Avenida Agamenon Magalhães

Publicação: 08/07/2017 09:00

Dostoiévski, Clarice Lispector e Graciliano Ramos estão entre os autores citados por Mário José Braz, 65 anos. Leitor voraz de obras das literaturas russa e brasileira, ele trabalha como ambulante desde os 15 anos. Cursou até a quarta série do ensino fundamental, mas sabe de cor os nomes dos rios e a população das principais cidades do Brasil, Europa e Estados Unidos. “Meu maior sonho era me formar. Só estudei até a quarta série, mas sou culto e gosto muito de ler”, revela. Há três anos na Avenida Agamenon Magalhães, principal corredor viário do Recife, ele carrega um pesado guarda-sol cheio de carregadores, cabos, protetor de volante e paus de selfie.

Nem a dificuldade de locomoção gerada por feridas causadas pela diabetes o impedem de caminhar carregando os objetos. “Tive a ideia de usar esse guarda-sol quando vi Nadando em dinheiro (um filme brasileiro estrelado por Mazzaropi). Ele escondeu o dinheiro, que ameaçavam roubar, em uma sombrinha. Já eu deixo meu tesouro (produtos) aqui.” Na avenida, é chamado de Mazzaropi pelos outros ambulantes.

Antes de começar a vender acessórios para veículos e celulares na Agamenon, Mário trabalhou no Mercado de São José e na Ponte da Boa Vista, conhecida como Ponte de Ferro. “Quando nos tiraram da Ponte de Ferro, passei fome por alguns meses. Foi quando um amigo me chamou para vender bandeiras do Brasil na Agamenon na Copa de 2014 e fiquei aqui até hoje.”