Kéfera é fada
Estreia no cinema do fenômeno do YouTube atesta projeção dos astros teen - ímãs de popularidade no mundo real e virtual
Ana Clara Brant
Marina Simões
viver.pe@dabr.com.br
Publicação: 06/10/2016 03:00
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Foi uma carona despretensiosa que levou um dos maiores fenômenos da internet para a telona. Há dois anos, a youtuber e atriz curitibana Kéfera Buchmann, de 23 anos, estava no Projac, os estúdios da TV Globo no Rio, gravando uma participação de Giovanna Antonelli em seu canal na internet, o 5inco minutos. Por acaso, conheceu a diretora Cris D’Amato (Tainá, uma aventura na Amazônia, Confissões de adolescente, Linda de morrer) que lançava S.O.S mulheres ao mar, estrelado justamente pela atriz global.
A cineasta acabou oferecendo para Kéfera uma carona, que se transformou em um convite profissional. “A gente ficou umas quatro horas presas no engarrafamento. E conversamos tanto, contei minha história para a Cris, que acabou me chamando para participar do S.O.S mulheres ao mar 2. Por conta do visto, já que o filme foi gravado nos EUA, não participei, mas aí surgiu outra oportunidade. Foi o melhor trânsito da minha vida”, recorda Kéfera, nome egípcio que quer dizer “o primeiro raio de sol da manhã”.
A tal chance de ouro era para estrelar o longa É fada, baseado no livro Uma fada veio me visitar, de Thalita Rebouças. O filme que estreia hoje é dirigido por Cris D’Amato e tem produção e argumento de Daniel Filho. No elenco, Zeiva, mãe de Kéfera, e a cachorrinha de estimação da estrela da web, a pug Vilma Tereza. “Foi uma honra fazer a minha primeira protagonista no cinema já de cara com a Cris D’Amato e o Daniel Filho. Sou atriz desde os 15 anos, fiz teatro, e já tinha esse sonho de trabalhar com os dois algum dia. Achei que ia demorar, mas fiquei supercontente de já ter essa oportunidade agora e ainda nem precisei de fazer teste”, revela a vlogueira.
Na história, Geraldine, papel de Kéfera, é uma fada que perdeu as asas por utilizar métodos pouco convencionais nas missões. A última chance para recuperá-las será ajudar Julia (Klara Castanho). A garota foi criada somente pelo pai, com muito amor e poucos recursos. Depois de anos, a mãe retorna e passa a questionar a educação de Julia. Eis que surge Geraldine para ajudá-la a vencer os preconceitos e estabelecer novas amizades. Mas Geraldine continua atrapalhada e Julia logo descobrirá que nem todas as fadas são iguais.
Kéfera diz que, desde que começou a atuar ainda adolescente, fazer cinema sempre foi um grande desejo e que mesmo com todas as diferenças entre estar no palco e no set, ela adorou a experiência. “No cinema a gente tem a coisa da marcação de cena, as gravações não seguem uma ordem cronológica, enfim, é bem mais trabalhoso do que estar no tablado. Mas eu amei e me diverti bastante. Em novembro, vou rodar um longa-metragem também como protagonista e ao lado de uma pessoa que admiro demais. Estou doida para gritar para o mundo sobre como é o projeto, mas ainda não posso adiantar muita coisa”, declara.
A youtuber, que também é escritora - o livro Muito mais que 5inco minutos foi o mais vendido da Bienal do Livro do Rio de Janeiro de 2015 e ela acaba de lançar Tá gravando. E agora? -, revela que se identificou bastante com a personagem já que a fada tem um jeito meio atrapalhado parecido com o seu. Mas se reconheceu mesmo foi em Julia, papel de Klara Castanho. “Na adolescência, passei pelas mesmas questões dela, de sofrer bullying pelo meu cabelo, pelo meu corpo e pelas roupas que eu usava e queria ser aceita pelos amigos da minha escola. Foi uma fase muito difícil”, lamenta.
Fenômeno
Soltar o verbo diante da câmera em seu canal no YouTube, criado em 2010, foi uma maneira de libertação, segundo ela. Kéfera acredita que, quando sofria discriminação, ela sempre tentava agradar aos outros. A decisão de fazer o 5minutos foi a maneira de mostrar realmente quem era. “Na web, sempre fui espontânea, sincera e acho que, com esse meu jeito, conquistei muita gente. Acho que as pessoas sentem falta de gente assim, mais autêntica. Acabei agradando muito mais do que imaginava”, destaca. Ela coleciona 30 milhões de seguidores virtuais - só no YouTube, são 9,5 milhões de inscritos. Foi eleita pela revista norte-americana Forbes como uma das jovens mais promissoras do Brasil em 2016.
Entrevista: Kéfera Buchmann
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Em Jaboatão, youtuber cantou e distribuiu simpatia |
Você aparece cantando no cinema. O que achou do resultado? Seria o início de uma carreira de cantora?
Com 11 anos, participava da banda da igreja na escola, fiz coral e aulas de canto em São Paulo e Curitiba. Ainda sou insegura com minha voz. Mas foi super tranquilo. O pessoal do estúdio me deixou à vontade. Foi muito prazeroso. Achei a ideia doida, mas estou feliz com o resultado. Para cantar, teria que fazer um intensivo. Meu foco é fazer cinema. Adquirir a segurança e fazer mais filmes.
Antes mesmo de estrear, o trailer teve a polêmica do “porra” e o filme foi considerado impróprio para crianças com censura 12 anos. Nos seus vídeos, os palavrões também são recorrentes. O que pensa disso?
O público recebeu muito bem. O pessoal se diverte e não ficou grosseiro. Solto um palavrão ou outro. É um resultado muito família. Essa é minha essência. Não falo com maldade, é meu jeito se ser e de falar.
Como lida com a questão do assédio? Qual a maior loucura que alguém já fez para conseguir uma selfie com você?
Acho que é muito carinho. Eles (fãs) são muitos atenciosos. E sou grata por isso e por chegar aonde cheguei. Estou achando megadivertido essa bagunça da pré-estreia. Vejo reações de todo tipo. O que já foi muito engraçado: uma vez, na porta giratória de um restaurante, um menino me prendeu e tiramos a foto pelo vidro. Depois ele me deu uma pedra para autografar. Foi muito louco isso (risos).