O Super-8 tem muito a dizer
Livro organizado pelo pesquisador Paulo Cunha resgata reportagens publicadas e textos de cadernos pessoais do cineasta e jornalista pernambucano Geneton Moraes Neto, escritos entre 1977 e 1982
Danilo Lima
danilo.lima@diariodepernambuco.com.br
Publicação: 16/04/2021 03:00
Apesar de atualmente a produção audiovisual estar concentrada na região Sudeste, o que muitas pessoas não sabem é que Pernambuco já foi centro de importantes movimentos cinematográficos do Brasil. Marcada pelo trabalho colaborativo de cineastas autodidatas, a década de 70 presenciou diversos trabalhos independentes que expandiram os limites do experimentalismo técnico e narrativo, no que ficou conhecido como o Ciclo Super-8 Pernambucano.
O Super-8 é um formato de filme (bitola cinematográfica) desenvolvido na década de 60 inicialmente para uso amador. Contudo, o baixo custo do material em relação aos filmes profissionais (de 16mm e 35mm) e sua melhor qualidade em comparação ao 8mm tradicional fizeram com que este se tornasse, nos anos 70 e 80, o formato preferido para produção de filmes independentes, por estudantes ou cineastas iniciantes.
Foi nesse momento que, em 1973, iniciou-se o Ciclo Super-8 em Pernambuco, no qual foram produzidas mais de 200 obras, destacando o estado como o mais produtivo do país nesse formato. Alguns dos nomes relevantes da época foram Amin Stepple, Fernando Spencer, Jomard Muniz de Britto e Geneton Moraes Neto - este último não apenas como cineasta, mas também como jornalista e grande pesquisador do ciclo.
Geneton, que começou a carreira no Diario de Pernambuco, faleceu em 2016 e deixou uma extensa lista de livros, estudos e produções. Com o intuito de reunir parte dos escritos sobre o ciclo superoitista, a Cinemateca Pernambucana e a Revista Spia - UFPE lançam hoje o e-book Expedições à noite morena: Em defesa de um cinema vadio (Fazer Super-8 no Brasil dos anos 1970). O livro foi organizado pelo pesquisador Paulo Cunha, que resgatou reportagens publicadas e textos de cadernos pessoais do cineasta, escritos entre 1977 e 1982.
“Quando eu bati os olhos no material, achei muito interessante perceber a maneira como ele via o cinema experimental em Super-8. A Cinemateca Pernambucana já tinha feito toda a digitalização desses filmes de Geneton, então consideramos como um material complementar”, diz Paulo, em entrevista ao Viver. “A partir do lançamento do e-book, as pessoas vão ter condições de ver os filmes e também entender um pouco do que se passava na cabeça dele enquanto criador.”
A digitalização da obra de Geneton, composta de 17 curtas-metragens disponíveis no catálogo da Cinemateca, permite o acesso do público geral a um material que, na época, tinha sua circulação restrita a festivais, pequenos cineclubes e exibições caseiras.
O pesquisador ainda destaca o legado do cineasta por ter criado obras que “abrem um caminho muito exploratório e arrojado para um documentário de vanguarda, que Geneton viria a fazer mais tarde antes de falecer”. Da mesma forma, é essencial o resgate da história desse ciclo como forma de libertar os realizadores atuais de “ficar exclusivamente na dependência de obter grandes recursos para produzir audiovisual”. “O que o Super-8 demonstrou é que a qualidade dos filmes não está relacionada com isso”, afirma Paulo.
No início dos anos 90, o surgimento de novas tecnologias cinematográficas quase levou à extinção do Super-8. Houve o encerramento da produção de câmeras que suportam o cartucho, igualmente escasso de se encontrar em formato virgem. Hoje, o Super-8 adquiriu para alguns o status de “cult” e é utilizado em trechos de filmes e videoclipes que buscam resgatar a estética do período analógico. Contudo, para além desse fascínio, Paulo acredita que “o principal não é o culto ao Super-8 como uma coisa excepcional, o importante é ver aquilo que os filmes propunham do ponto de vista da linguagem. O material de Geneton continua vivo e atual, e aquilo que esses filmes dizem é completamente contemporâneo.”
Live
O lançamento ocorre às 18h de hoje com uma live nos perfis da @cinematecapernambucana e da @spiarevista, onde Paulo Cunha conversará com a pesquisadora Amanda Mansur sobre o livro e cinema. Já o e-book fica disponível gratuitamente no site cinematecapernambucana.com.br, na plataforma Issuhub e para download gratuito na Amazon.
O Super-8 é um formato de filme (bitola cinematográfica) desenvolvido na década de 60 inicialmente para uso amador. Contudo, o baixo custo do material em relação aos filmes profissionais (de 16mm e 35mm) e sua melhor qualidade em comparação ao 8mm tradicional fizeram com que este se tornasse, nos anos 70 e 80, o formato preferido para produção de filmes independentes, por estudantes ou cineastas iniciantes.
Foi nesse momento que, em 1973, iniciou-se o Ciclo Super-8 em Pernambuco, no qual foram produzidas mais de 200 obras, destacando o estado como o mais produtivo do país nesse formato. Alguns dos nomes relevantes da época foram Amin Stepple, Fernando Spencer, Jomard Muniz de Britto e Geneton Moraes Neto - este último não apenas como cineasta, mas também como jornalista e grande pesquisador do ciclo.
Geneton, que começou a carreira no Diario de Pernambuco, faleceu em 2016 e deixou uma extensa lista de livros, estudos e produções. Com o intuito de reunir parte dos escritos sobre o ciclo superoitista, a Cinemateca Pernambucana e a Revista Spia - UFPE lançam hoje o e-book Expedições à noite morena: Em defesa de um cinema vadio (Fazer Super-8 no Brasil dos anos 1970). O livro foi organizado pelo pesquisador Paulo Cunha, que resgatou reportagens publicadas e textos de cadernos pessoais do cineasta, escritos entre 1977 e 1982.
“Quando eu bati os olhos no material, achei muito interessante perceber a maneira como ele via o cinema experimental em Super-8. A Cinemateca Pernambucana já tinha feito toda a digitalização desses filmes de Geneton, então consideramos como um material complementar”, diz Paulo, em entrevista ao Viver. “A partir do lançamento do e-book, as pessoas vão ter condições de ver os filmes e também entender um pouco do que se passava na cabeça dele enquanto criador.”
A digitalização da obra de Geneton, composta de 17 curtas-metragens disponíveis no catálogo da Cinemateca, permite o acesso do público geral a um material que, na época, tinha sua circulação restrita a festivais, pequenos cineclubes e exibições caseiras.
O pesquisador ainda destaca o legado do cineasta por ter criado obras que “abrem um caminho muito exploratório e arrojado para um documentário de vanguarda, que Geneton viria a fazer mais tarde antes de falecer”. Da mesma forma, é essencial o resgate da história desse ciclo como forma de libertar os realizadores atuais de “ficar exclusivamente na dependência de obter grandes recursos para produzir audiovisual”. “O que o Super-8 demonstrou é que a qualidade dos filmes não está relacionada com isso”, afirma Paulo.
No início dos anos 90, o surgimento de novas tecnologias cinematográficas quase levou à extinção do Super-8. Houve o encerramento da produção de câmeras que suportam o cartucho, igualmente escasso de se encontrar em formato virgem. Hoje, o Super-8 adquiriu para alguns o status de “cult” e é utilizado em trechos de filmes e videoclipes que buscam resgatar a estética do período analógico. Contudo, para além desse fascínio, Paulo acredita que “o principal não é o culto ao Super-8 como uma coisa excepcional, o importante é ver aquilo que os filmes propunham do ponto de vista da linguagem. O material de Geneton continua vivo e atual, e aquilo que esses filmes dizem é completamente contemporâneo.”
Live
O lançamento ocorre às 18h de hoje com uma live nos perfis da @cinematecapernambucana e da @spiarevista, onde Paulo Cunha conversará com a pesquisadora Amanda Mansur sobre o livro e cinema. Já o e-book fica disponível gratuitamente no site cinematecapernambucana.com.br, na plataforma Issuhub e para download gratuito na Amazon.