A nova versão da "novela das novelas" Globo estreia hoje à noite o remake de "Vale Tudo", recontando uma história que marcou a teledramaturgia brasileira com temáticas ainda atuais
ROBSON GOMES
Giro Blog
Publicação: 31/03/2025 03:00
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Logo mais à noite, a estreia de uma “nova” Vale Tudo no horário das nove da TV Globo vai mexer com dois públicos em específico. Primeiro, como maioria, aquele que viu a trama original em 1988 e suas reprises ao longo do tempo. E um outro, de 2025, que ainda não conhece o universo de Raquel, Maria de Fátima, Odete Roitman e companhia. Enquanto o remake que chega hoje é assinado por Manuela Dias, muitos guardam com carinho a “novela das novelas” de 37 anos atrás: uma obra-prima criada e escrita por Gilberto Braga, o pernambucano Aguinaldo Silva e Leonor Bassères.
No livro Gilberto Braga, o Balzac da Globo (Intrínseca, 2024), conhecemos um pouco mais a fundo a história que paralisou o país. Ali, é destacado que o folhetim nasceu em um contexto histórico bastante importante: o processo de redemocratização do país. Além disso, os impactos na economia do Brasil da época, e as inúmeras denúncias de corrupção em todas as esferas do governo, levaram Gilberto a definir um tema, antes mesmo de ter uma história para contar. Era o embrião de uma trama sobre ética, determinada a responder: “Vale a pena ser honesto num país onde todo mundo é desonesto?”.
A publicação de Maurício Stycer e Artur Xexéo revela que, em julho de 1987, Gilberto Braga recebeu a missão de escrever essa nova trama, que se tornaria um verdadeiro tratado sobre o Brasil da segunda metade dos anos 1980. Leonor Bassères foi a segunda pessoa adicionada à equipe de criação e, em dezembro do mesmo ano, por uma sugestão do próprio autor titular, Aguinaldo Silva fechou o trio que faria história na teledramaturgia brasileira.
Em recente entrevista ao jornal O Globo, o novelista pernambucano teceu opiniões sobre o remake que estreia hoje à noite: “É complicado falar porque sou completamente apaixonado por Vale Tudo. Foi um dos momentos mais mágicos da minha vida. Tudo dava certo. Não vou negar: como único autor vivo da novela, tenho certo ciúme, mas estou com expectativas. Quero ver, porque, claro, é outra época, outros tempos, outros costumes. Evidentemente, não pode ser exatamente como foi naquele momento. Mas é uma grande história”.
Na primeira reunião do trio para escrever Vale Tudo, a biografia de Gilberto relata que o autor disse a Aguinaldo que, além da trama sobre honestidade, adicionaria uma inspiração no clássico filme americano Alma em Suplício (1945), de Michael Curtiz: a devoção instintiva da mãe pela filha inescrupulosa e manipuladora, sendo esta a gênese do confronto entre Raquel e Maria de Fátima, que em 2025 serão interpretadas por Taís Araujo e Bella Campos, respectivamente. Na época, a ideia agradou ao pernambucano. “Que bom. Adoro um melodrama”, respondeu o colaborador.
O livro ainda destaca a boa relação entre Gilberto Braga e Aguinaldo Silva. “Gilberto sempre atribuiu muito do sucesso de Vale Tudo à sintonia, na aparência improvável, com Aguinaldo. [...] Antes da estreia da novela, eles [com Leonor] se reuniam a cada duas semanas, aos domingos, no apartamento de Gilberto, para criar as tramas de blocos de seis capítulos. Após a reunião, Aguinaldo fazia a chamada escaleta, detalhando o que iria acontecer, cena a cena, em cada um dos capítulos de uma determinada semana”, diz a obra, destacando que o pernambucano escrevia bastante as histórias do núcleo de Poliana (Pedro Paulo Rangel), Aldeíde (Lilia Cabral) e Consuelo (Rosane Gofman). Mas há relatos de que os três se alternavam em todos os núcleos.
Responsáveis por criar uma novela que está no imaginário popular, a Vale Tudo que estreia hoje tem que ser vista de cabeça aberta, pois esta clássica história agora será ambientada nos dias atuais. Mas, claro que um certo ciúme do novo por parte de um dos criadores é compreensível. “Certamente, a Manuela vai fazer um trabalho incrível. Estou querendo ver. Com ciúmes, mas estou (risos). Ela não chegou a me procurar, e acho que faz bem. É a versão dela”, sentencia Aguinaldo Silva. Chegou a hora desse remake, enfim, mostrar a sua cara.