O Baha'i já está presente em 178 países A religião que nasceu na região da antiga Pérsia só perde para o cristianismo em ocupação territorial

Ana Paula Neiva
ana.neiva@diariodepernambuco.com.br

Publicação: 18/02/2017 03:00

O templo religioso no Recife fica localizado na Rua Padre Giordano, no bairro de Boa Viagem. As celebrações são a cada 19 dias do mês (Peu Ricardo/Esp.DP )
O templo religioso no Recife fica localizado na Rua Padre Giordano, no bairro de Boa Viagem. As celebrações são a cada 19 dias do mês

Foi no país berço de uma das mais antigas civilizações do mundo, a Pérsia, onde hoje está localizado o Irã, que nasceu, em 1844, a religião Baha’i. Lugar marcado por guerras e intolerância religiosa, onde a maioria era formada por muçulmanos, o bahaísmo conseguiu, a partir do século 19, ser reconhecido. Monoteísta, o Baha’ i buscou para esse povo tão sofrido uma alternativa para trazer paz à humanidade. Enfatizando o espiritual, a religião prega a fé e trabalha o lado emocional e psicólogico das pessoas para que elas possam enfrentar melhor os problemas do dia a dia. Sempre aceitando as diferenças, sejam quais forem.

Seu fundador Mirzá Husayb Ali, intitulado Bahá’u’lláh, que significa Glória a Deus, nasceu e viveu em Teerã, em 1817, no Oriente Médio. Ficou conhecido como o Pai dos Pobres por sua dedicação aos mais necessitados. Atualmente, a religião atrai pelo menos sete milhões de seguidores no mundo. Está presente em 178 nações em todo o planeta, superada apenas apenas pelo cristianismo em presença territorial. No Brasil, a religião chegou no ano de 1921, trazida pela norte-americana Leonora Holsapple Armstrong, apontada como a mãe espiritual dos Bahá’ is na América Latina. Na época, com apenas 25 anos, ela conseguiu difundir a crença nas terras brasileiras. Hoje, são mais de 65 mil membros do bahaísmo no país, estando presente em mais de 1,3 mil municípios. Leonora morreu em 1980, na Bahia, aos 85 anos. Em Pernambuco, a religião chegou há 50 anos e hoje possui 75 membros, entre adultos e crianças.

“Acreditamos que somos filhos de um só Deus e temos o objetivo de servir a humanidade”, resume a paraibana Shorea Salmanzadeh, 34, membro da comunidade Baha’i em Pernambuco. Filha de um casal iraniano, Shorea diz que a base da religião é a família. “Ela é a essência, o embrião dessa relação espirituosa com Deus. A revelação de de Bahá’u’lláh afirma que o propósito da nossa vida é conhecer a Deus e atingir sua presença. Mas não um Deus físico de carne e osso. Acreditamos no Espírito Santo e ele é um só”, esclarece.

Os Baha’ i possuem nove templos de adoração no mundo. O mais novo deles, situado em Santiago, capital do Chile, foi inaugurado num evento grandioso em outubro do ano passado. Qualquer pessoa pode fazer parte da comunidade, das orações, meditações e estudos. “Aceitamos pessoas de várias etnias raciais, culturais, econômicas e sociais”, comenta Shorea. Mas todos os membros precisam estar dispostos a acreditar na unicidade da humanidade, que respeita a igualdade entre mulheres e homens, a eliminação de preconceitos, origens, união da família e na vida após a morte.

A crença acredita na evolução da espiritualidade da alma humana. “Servindo a nossos semelhantes estamos progredindo espiritualmente”, observa Shorea. A religião também orienta os seguidores a meditar e jejuar.

 (Peu Ricardo/Esp.DP )
“Ela é a essência, o embrião dessa relação espirituosa com Deus. A revelação de Bahá’u’lláh afirma que o propósito da nossa vida é conhecer a Deus”
, Shorea Salmanzadeh, 34, membro da comunidade Baha’i, em Pernambuco. Filha de um casal iraniano

Ano Novo em pleno sábado de Zé Pereira

O Ano Novo Baha’i será comemorado no próximo dia 25 com grande festa no Recife. A cerimônia, denominada Ayyám-I-Há, marca o início de mais um calendário. Diferente do tradicional ano solar que tem 365 dias, o calendário bahaísmo é composto de 19 meses e a cada mês de 19 dias. Somando tudo, o ano Baha’i tem 361 dias, cinco a menos quando o ano é bissexto. Essa diferença de cinco a seis dias é chamada de dias intercalares, e geralmente ocorre entre 25 de fevereiro a 1º de março. A celebração deste ano será no sábado de carnaval, no templo da comunidade Baha’ i, em Boa Viagem.

“Nessa ocasião orientamos os membros da religião para se confraternizarerm e fazer caridade. No templo, há sempre uma comemoração com festa, que dura em média duas horas”, explica Shorea Salmanzadeh. A festa é promovida pela comunidade local. A programação contempla a devoção espiritual, consulta administrativa e congraçamento social.

A programação conta ainda com apresentações musicais. Na Bahia, por exemplo, durante a passagem do Ayyám-I-Há já houve participação de bandas afro-brasileiras com toques de tambores. Já no Mato Grosso do Sul, as canções têm melodias inspiradas nos grupos sertanejos. A Festa tem a finalidade de aproximar os bahá’ís e suas famílias.

Embora seja comemorado com alegria e reunião entre os integrantes da comunidade, não são servidos alimentos. Mas, na ocasião, os Bahá’ís oferecem e aceitam presentes, até um amigo secreto, como acontece durante o Natal dos cristãos. Além da passagem do ano, os bahaístas se encontram no templo a cada 19 dias do mês. 

Características e ensinamentos Baha’ i:
  • Monoteísta, acredita em um único Deus, cultuado com diferentes nomes
  • É contra preconceitos e discriminação
  • Preza harmonia entre a ciência e a religião
  • Busca verdade de seus ensinamentos sem clérigos
  • Adota número nove como número da perfeição
  • Adota templo de nove entradas com finalidade de orações
  • Acredita que a vida é um projeto para crescimento espiritual
  • Acredita na semelhança entre Deus e o homem
  • A união de um homem com uma mulher melhora a vida espiritual de ambos
Além do Brasil, há santuários do Baha’i em Israel, Alemanha, Austrália, Índia, Panamá, Samoa, Uganda e Estados Unidos

Endereço do templo Baha’ i no Recife: Rua Padre Giordano, 169, Boa Viagem