SUS perde quase 15 mil leitos Levantamento do Conselho Federal de Medicina mostra que número de leitos no país caiu de 336,2 mil para 321,6 mil entre 2010 e 2014

JULIA CHAIB
brasil.pe@dabr.com.br

Publicação: 20/10/2014 03:00

O Sistema Único de Saúde (SUS) perdeu quase 15 mil leitos de internação de 2010 a julho deste ano. Do ano passado para cá, foram praticamente 2 mil unidades desativadas. Segundo levantamento do Conselho Federal de Medicina (CFM), elaborado com base no Cadastro Nacional de Estabelecimentos de Saúde (CNES), o país tem hoje 321,6 mil suportes para pacientes que precisam ficar mais de 24h internados. Em 2010, eram 336,2 mil. Por outro lado, a quantidade de leitos de Unidade de Terapia Intensiva (UTI) teve crescimento de 12%, chegando a 27,14 mil, bem como os de repouso e observação, destinado aos pacientes atendidos em urgência ou ambulatório.

Em 2013, o CFM havia mostrado essa tendência na redução dos leitos. De acordo com a entidade, a especialidade que teve mais leitos desativados é a pediatria cirúrgica: menos 7.492. Em seguida, está a psiquiatria (-6.968), obstetrícia (-3.926) e a cirurgia-geral (-2.359). As unidades de internação que tiveram aumento foram as destinadas a clínica-geral, ortopedia e traumatologia. A região Sudeste foi a que teve a maior redução no período puxada, principalmente, pelo Rio de Janeiro, onde quase 6 mil vagas foram desativadas. Depois, está o Nordeste, o Centro-Oeste e o Norte. O Sul teve um crescimento de 417.

O vice-presidente do CFM, Mauro Ribeiro, considera dramática a situação. “São leitos de retaguarda. O paciente que precisa operar de forma eletiva, não tem leito. Então, os pacientes ficam internados em prontos-socorros, o que é um absurdo. Isso impacta em todo o sistema. As Unidades de Pronto-Atendimento (UPAs) estão virando depósitos de doentes de urgência e emergência”, dispara. As UPAs têm leitos de repouso, nos quais os pacientes não deveriam ficar mais de 24h.

O Ministério da Saúde informou que a redução é uma tendência mundial. Os índices da Organização Mundial de Saúde (OMS) mostram, por exemplo, a diminuição de leitos no Reino Unido. No país, que também tem modelo universal de saúde e serve de exemplo para o SUS, houve redução de 26% de 2003 para 2012. Segundo a pasta, alguns procedimentos passaram a ser ambulatoriais por causa do investimento em outras políticas, como a saúde básica e as UPAs. O vice-presidente do CFM, entretanto, critica a política da saúde mental e afirma que as UPAs acabam sendo usadas para internar os pacientes.