A Primavera Árabe se tornou inverno
Cinco anos após a onda de levantes populares que derrubou ditaduras em quatro países, apenas a Tunísia construiu a democracia e a estabilidade política
RODRIGO CRAVEIRO
Do Correio Braziliense
Publicação: 20/12/2015 03:00
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População de Tunis foi às ruas na semana passada para comemorar os cinco anos da revolução árabe |
Apesar de terem derrubado ditadores, Líbia, Egito e Iêmen fracassaram em gerenciar a transição e se tornaram presas de terroristas, de milicianos ávidos pelo poder e de um regime militar que abusa da mão-de-ferro para punir opositores. Por sua vez, a tentativa de revolta para depôr Bashar Al-Assad lançou a Síria em uma guerra civil com múltiplos atores de agendas diversas. Jihadistas do Estado Islâmico e de outras facções, combatentes rebeldes e o Exército de Damasco mataram ao menos 250 mil e motivaram um êxodo migratório que colocou a Europa em alerta.
“A Primavera Árabe não foi árabe, mas tunisiana”, afirma por telefone ao Correio Braziliense/Diario, sem esconder o sorriso, Mohammed Fadhel Mahfoudh, presidente da Ordem Nacional dos Advogados da Tunísia, uma das entidades do Quarteto. “Ela falhou nas outras nações porque aqui existe uma sociedade civil muito forte e poderosa. Temos personalidades (políticas) que tiveram formação em boas escolas”, comenta. De acordo com ele, é impossível comparar a Tunísia de hoje com aquela governada pelo ditador Zine El Abidine Ben Ali. “Nós somos livres e os direitos humanos são respeitados. Também temos novas instituições. As pessoas podem votar e conversar sobre política.”
Mahfoudh admite a urgência de uma transição econômica. “Nós recebemos o Nobel por nosso trabalho, o que é ótimo. O prêmio significa que o povo tunisiano é pacífico e que todos os problemas políticos podem ser solucionados por meio da negociação e da paz”, diz.
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