Pirata em alta nas classes A/B Data Popular mostra que marcas falsificadas caíram no gosto de quem poderia pagar pelo produto original

THATIANA PIMENTEL
thatianapimentel.pe@dabr.com.br

Publicação: 10/11/2013 03:00

Apreensão de piratas no estado superou 24 toneladas (BRUNA MONTEIRO/DP/D.A PRESS)
Apreensão de piratas no estado superou 24 toneladas
Você sabia que metade da população brasileira consome produtos piratas? E que o uso desses itens é ainda maior nas classes altas? Segundo pesquisa do Data Popular, sete em cada dez mulheres das classes A/B estão usando marcas falsificadas. Em Pernambuco, excetuando-se a compra de CDs e DVDs, que é mais comum nas classes C e D, o consumo de itens piratas pelas classes A e B também cresceu em todas as áreas, replicando o padrão nacional. De acordo com a Delegacia Estadual de Crimes Contra a Propriedade Imaterial (Deprim-PE), nos primeiros dez meses deste ano foram apreendidas mais de 24 toneladas de itens piratas no estado, um recorde local. Dentre as marcas, itens com etiquetas da Chanel, Gucci, Dior, Nike, Adidas e Lacoste são os mais comuns.

Para Renato Meirelles, sócio-diretor do Instituto Data Popular, o crescimento do consumo nas camadas mais ricas tem três causas. “Uma é que as pessoas das classes mais altas já têm status e, com um falsificado bem-feito, ninguém vai desconfiar deles. Ou seja, eles podem esfregar a etiqueta na cara dos outros e não levantar suspeitas. ” Por fim, Meirelles indica que o avanço da tecnologia é o terceiro facilitador desse consumo. “A internet tornou a falsificação quase incontrolável, porque fica acessível consumir de forma anônima. As ‘dondocas’ não precisam ir na sulanca. Compram sem sair de casa”, reforça.

Germano Bezerra, delegado da Deprim-PE, concorda. “As pessoas daqui que usam esses produtos são aquelas que gostam de ostentar, que compram pirata apenas para mostrar que têm diversos produtos de marca. Às vezes, essas pessoas nem conhecem direito a marca e ficam usando réplicas ridículas. Tem muito jacaré Lacoste com a boca fechada vestindo os bem nascidos recifenses.”

Ele ressalta que a principal justificativa apresentada para a compra dos produtos falsificados continua sendo o preço. Mas, para Bezerra, 98% dos consumidores têm consciência sobre a ilegalidade e os prejuízos da pirataria. “As pessoas, principalmente nas classes A/B, sabem que estão ajudando na sonegação de impostos, na informalidade, na falência do comércio local e no aumento do desemprego. O que elas nem sempre imaginam é que a compra de produtos piratas alimenta também organizações criminosas.”

No Recife, os pontos com maior movimento de mercadorias falsificadas são o Bairro de São José, o Camelódromo, a feirinha de Boa Viagem e a Avenida Conde da Boa Vista. “O estado não é um produtor. Às vezes encontramos um laboratório de mídias ou de falsificação de cigarro, mas nosso maior problema mesmo é o consumo, na capital e no Interior. Cidades como Caruaru, Toritama, Santa Cruz também se destacam por causa da grande movimentação de suas feiras”, completa.

Vale ressaltar que consumir produtos piratas é crime de receptação e pode resultar em detenção de um a quatro anos. Em relação a filmes, existe uma brecha jurídica. A Lei 9610/98 ,que trata de direitos autorais, não prevê a criminalização do consumo.