Mercado para deficiente visual Senac oferece cursos profissionalizantes gratuitos em várias áreas, com apoio da Associação de Cegos, criando oportunidade de emprego ou negócio

ROSA FALCÃO
rosafalcao.pe@dabr.com.br

Publicação: 23/08/2014 03:00

Célia de Santana fez vários cursos após perder a visão e comemora a agenda cheia (BLENDA SOUTO MAIOR/DP/D.A PRESS)
Célia de Santana fez vários cursos após perder a visão e comemora a agenda cheia
Os deficientes visuais descobriram as mãos como porta de entrada para o mercado de trabalho: a profissão de massoterapeuta. Parceria da Associação Pernambucana de Cegos (Apac) com o Serviço Nacional do Comércio (Senac) oferece cursos gratuitos profissionalizantes em várias áreas, entre elas cuidados pessoais, para os associados da entidade. Após o treinamento, os participantes do curso entram num banco de talentos e podem trabalhar como autônomos, para aliviar o estresse dos trabalhadores de empresas públicas e privadas. Outros abrem o próprio negócio e fazem atendimentos em domicílio, uma forma de garantir uma renda extra.

Antes de perder completamente a visão, Célia de Santana, 48 anos, foi operária numa fábrica. Depois trabalhou como vendedora. “Quando perdi a visão com 22 anos, eu fiquei desnorteada. Não conseguia trabalho. Então resolvi estudar e fazer alguns cursos”, conta. Ela aproveitou a oportunidade e se formou em massoterapia. Tomou gosto pela profissão. Hoje comemora a agenda cheia de clientes: “A gente acorda de manhã e sabe que vai trabalhar. Para nós, deficientes, é muito edificante. Tenho
clientes todos os dias”.

As mãos milagrosas de Célia aliviam o estresse dos funcionários da Caixa Econômica Federal e do Banco do Brasil. Os dois bancos firmaram convênios com a Associação Pernambucana de Cegos para abrir um espaço de trabalho para os deficientes visuais. A economiária Daiane Borges, 33 anos, gerente pessoa jurídica da Caixa, é uma das clientes que relaxa a tensão com a aplicação de shiatsu. “A gente só percebe a tensão quando senta aqui. Nos dias em que eu faço shiatsu fico mais tranquila. Melhora a minha concentração e o meu rendimento”.

José Soares (D) estuda massoterapia em busca de uma nova profissão e planeja o futuro (BLENDA SOUTO MAIOR/DP/D.A PRESS)
José Soares (D) estuda massoterapia em busca de uma nova profissão e planeja o futuro
Os deficientes visuais José Soares da Silva Filho, 65 anos, e Paulo Guilherme de Souza, 61 anos, são aposentados e resolveram fazer o curso de massoterapia para ter uma nova profissão. “Hoje eu tenho um novo projeto de vida. Quero me formar e abrir o meu próprio espaço de atendimento”, planeja Soares. Paulo também faz planos. “Estou fora do mercado de trabalho porque existe a discriminação da deficiência visual e também da idade. Com o curso posso trabalhar como autônomo”.

Danilo Borba, instrutor do curso de massoterapia do Senac, explica que os deficientes visuais têm um diferencial no ofício: tato aguçado com maior concentração. Segundo ele, além de aprender as técnicas de massagens (shiatsu, reflexologia, sueca, drenagem linfática), os alunos recebem noções de ergonomia, biossegurança e ambiente de trabalho. “Muitos saem daqui e montam um negócio e têm uma fonte de renda”.

Coordenador do programa de qualificação da Apac, Daniel Correia diz que estão programados novos cursos profissionalizantes gratuitos e do Pronatec com o Senac. Entre eles, o de informática básica para os deficientes visuais. Uma exigência do mercado de trabalho. Mais de 200 deficientes visuais já foram formados no curso de cuidados pessoais.