Trabalhador tem pouco a comemorar Às vésperas do 1º de maio, pesquisa do IBGE aponta que neste ano 1,4 milhão de empregos com carteira assinada foram cortados no país

ROSA FALCÃO
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Publicação: 30/04/2016 03:00

Amanhã, 1º de maio, Dia do Traballho, 11 milhões de brasileiros não têm muito o que comemorar. São trabalhadores que estão desempregados e procurando fazer “bicos”para sobreviver ao vendaval que eliminou 1,4 milhão de empregos com carteira no país no ano. Os que ficaram no emprego amargaram a perda de 3,2% nos rendimentos. A taxa de desocupação foi ladeira abaixo. Pulou de 7,9% pra 10,9% no comparativo entre o primeiro trimestre de 2015 e o primeiro trimestre de 2016, atingindo principalmente os empregados da indústria. É a maior taxa desde 2012, quando foi iniciada a série da Pesquisa Nacional Por Amostra de Domicílio Contínua (PNAD) do IBGE.
 Cimar Azeredo, coordenador de Trabalho e Rendimento do IBGE, destaca que os indicadores do mercado de trabalho do primeiro trimestre deste ano ficaram abaixo das expectativas. Entre o final de 2015 e o começo de 2016 aumentou em dois milhões o número de desempregados no país. Segundo o técnico, mesmo com a sazonalidade do emprego temporário, a taxa de desemprego de 10,9% suplantou todos os dados da série da pesquisa. “Você passa de um trimestre para o outro com a perda de 772 mil postos de trabalho com carteira assinada”.
 Por outro lado, ele destaca o aumento “expressivo e recorde” de 1,4 milhão de empregos por conta própria. São ocupações mais precárias, informais e sem as garantias sociais, como a previdência e o FGTS. Nos primeiros três meses do ano, os trabalhadores autônomos ultrapassaram 25% do total de ocupados no país. “Os grupamentos que aumentam são aqueles mais voláteis e voltados para a informalidade”, diz Azeredo. Outro dado significativo é a perda de empregos na indústria, recuando de 14,4% para 12,9% a participação do setor no mercado de trabalho.
 Para piorar a situação, o trabalhador brasileiro amargou a perda da renda média entre o primeiro trimestre de 2015 e 2016, passando o rendimento de R$ 2.031 para R$ 1.966. “O rendimento menor dos ocupados reduz a massa de rendimentos no país, e consequentemente temos menos dinheiro circulando na economia e redução do consumo das famílias”, conclui.
 O economista Écio Costa, consultor financeiro e professor da UFPE, diz que o emprego está no fundo do poço e o desemprego se aprofundando. “Quando houver a retomada da economia, a volta do emprego só acontece no último estágio. Primeiro vem a demanda, as empresas reduzem os estoques, depois retomam a produção com a mão de obra que têm, e por último, contratam”. Por outro lado, ele vê como natural o aumento do emprego por conta própria diante da dificuldade de recolocação no mercado de trabalho.
 Costa aponta como negativa a redução de empregos na indústria porque são postos de trabalho mais qualificados, com produtividade elevada e maiores salários. A indústria pernambucana não passou incólume. O economista da Federação das Indústrias de Pernambuco (Fiepe), Bruno Nunes, destaca os setores da indústria pernambucana que mais demitiram em 2016: alimentos e bebidas (-20 mil), construção civil (- 12 mil) e química (2,3 mil). “Nos últimos anos a indústria recebeu muitos incentivos, empregou mais, e com a perda de renda e do consumo foi a mais afetada pelo desemprego”.