Oitavo navio de estaleiro 'entregue' com defeitos
Embarcação sequer saiu de Suape por ter problemas estruturais. Transpetro contesta informações
Publicação: 29/09/2016 03:00
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Estaleiro teria apressado repasse de navio, que deveria ter sido entregue em agosto, para não ampliar multa por atraso |
O Estaleiro Atlântico Sul (EAS) entregou o oitavo navio construído pelo empreendimento, mas ele não chegou sequer a sair do dique de Complexo de Suape, de acordo com informações dos trabalhadores. A “entrega” foi feita exclusivamente para cumprir o protocolo de prazo (início de agosto) e evitar multas extras por atraso, já que a Transpetro, braço logístico da Petrobras que encomendou o navio, teria verificado vários problemas estruturais que inviabilizam a operação na frota logística de petróleo da Petrobras. Para se ter ideia, 70% das peças de uma parte importante do navio foram importadas da China, como máquinas e unidades de motorização do navio, que exigem critérios de qualidade superiores aos que foram usados. Em uma prova de mar, realizada há dois meses, foram verificados vários vazamentos e uma das estruturas explodiu, ferindo gravemente um trabalhador.
O presidente do Sindicato dos Trabalhadores Metalúrgicos de Pernambuco (Sindmetal-PE), Henrique Gomes, reforçou que o EAS entregou atrasado e cheio de falhas para evitar o aumento da multa. “O navio ainda se encontra encalhado, fazendo muitos reparos no dique do EAS. O navio 8 a todo o momento teve muitos problemas por consequência da gestão do Estaleiro Atlântico Sul, que, com irresponsabilidade, mandou fazer 70% das peças do navio na China com material de baixa qualidade, tudo para baixar custos”, apontou, citando que as partes do navio compradas na China compõem a praça de máquina, o motor, a casaria e a gaiuta (entrada de ar e luz do navio).
As queixas do presidente do sindicato atacam, também, a sobrecarga de trabalho a qual os trabalhadores foram submetidos depois das várias demissões e destacam a gravidade de a empresa ter importado tubulações que não vieram revestidas nas condições ideais para o porte do navio e para a segurança de quem manipula as peças. “Na última prova de mar para testar o navio, houve um grave acidente com um trabalhador, resultado da explosão de uma tubulação junto com a válvula. O funcionário foi atingido nas duas pernas, barriga e toda a área genital”, pontuou. Não há risco à vida.
A Transpetro informou que o navio do modelo Suezmax Machado de Assis foi entregue pelo Estaleiro Atlântico Sul (EAS) à Transpetro no último dia 21 de setembro e teve a premissa de conteúdo local respeitada. Em nota, explicou que “como ocorre com qualquer embarcação que é entregue à Transpetro , o Machado de Assis está sendo preparado para a sua viagem inaugural. Como usualmente praticado, entre a entrega à companhia e o início de operações, o navio passa pelo processo de armação (quando são colocados na embarcação insumos como combustíveis e alimentação), vistoria e registro da propriedade na Capitania dos Portos.” Ainda de acordo com a comunicação, a embarcação foi entregue com o aval da sociedade classificadora, atestando suas perfeitas condições de operação e que “qualquer intercorrência durante a construção do navio é de responsabilidade do estaleiro.”
As duas embarcações restantes (dos dez navios suezmax contratados) têm entrega prevista para 2017. Com relação aos Aframax, cinco embarcações estão em construção no EAS, sendo três com previsão de entrega em 2018 e outras duas em 2019. O Estaleiro Atlântico Sul foi procurado e não respondeu.