Ponte aérea Recife-São Paulo Empresas de tecnologia da informação mantêm a base no Recife e alçam voos em escritórios em outras praças

THATIANA PIMENTEL
thatiana.pimentel@diariodepernambuco.com.br

Publicação: 21/01/2017 03:00

Manter a sede no Recife e ter uma vitrine em São Paulo parece ser o denominador comum das empresas pernambucanas de tecnologia ascendentes. A verdade é que essa migração sempre existiu no setor mas, antes, era feita de forma permanente e unilateral. Há até sete anos, o fluxo normal era de empresas que cresciam e deixavam o estado definitivamente, se instalando 100% na unidade federativa mais rica do país e que gera, sozinha, um terço das riquezas do Brasil. Agora, o modelo de negócios que está em alta no segmento é ter uma base operacional local e uma comercial em São Paulo. Mas, por que essa receita faz tanto sucesso e é seguida por nove em cada dez empresas médias e grandes do mercado pernambucano de TI?

Ítalo Nogueira, sócio-fundador da empresa de soluções em tecnologia CMTech e presidente da Associação das Empresas de Tecnologia da Informação de Pernambuco e Paraíba (Assespro PE/PB), resume os benefícios deste modelo: Recife tem a mão de obra melhor qualificada por um preço mais baixo e um ambiente de negócios onde a cooperação entre os empreendimentos de TI é altíssima. Já São Paulo tem os melhores eventos, as melhores possibilidades de network e, o mais importante, os maiores clientes.

“É um fluxo estratégico e obrigatório para quem quer crescer. Em alguns segmentos, há a possibilidade de caminhar atendendo grandes clientes remotamente. No geral, você faz mais diferença se estiver ao lado do seu consumidor, interagindo com ele, personalizando seu produto e conquistando sua confiança e credibilidade pessoalmente”, considera. Hoje, o escritório paulista tem cinco anos. “Não dependeu unicamente disto mas, desde que abrimos a unidade em São Paulo, começamos a crescer 40% por ano”, afirma.

Guilherme Calheiros, diretor de inovação e competitividade do Porto Digital, ressalta, contudo, que o investimento em um espaço físico em São Paulo nem sempre é essencial. “A abertura de um escritório comercial custa alto, então o mais indicado é que a empresa comece enviando representantes que podem visitar seus clientes e trabalhar com coworkings e escritórios virtuais. Para investir numa central ou sala, é preciso colocar isso dentro de um planejamento maior, que não onere a empresa sem necessidade”, reforça. Ele acrescenta ainda que, em algum momento, a infraestrutura será essencial e encontrar um investidor em São Paulo pode definir a hora de abrir uma unidade lá. “Geralmente, em São Paulo, os empreendedores ficam também mais próximos de investidores.”

Para Davison Souza, diretor de marketing da Solutione, empresa pernambucana especializada no desenvolvimento e implantação de projetos de audiovisual, videoconferência e telemedicina, outra forma de saber a hora de abrir um escritório é quando os custos de viajar ao Sudeste forem maiores que os de manter o centro operacional lá. “Foi o que aconteceu com a gente. A empresa teve sua fundação em 1999 e já nos primeiros meses de vida sentimos que o mercado para o qual estávamos focando, na ocasião apenas videoconferência, nos exigia estar em São Paulo. Passamos três anos na ponte área até que ficou difícil de sustentar sem uma unidade lá. Para resolver a equação, encontramos um sócio paulista e, em 2002, chegamos lá.”

Desde a abertura, Souza garante que o crescimento da empresa foi de mais de 500%. “O mercado em São Paulo é gigante. Lá é onde estão presentes as sedes de quase 100% das maiores empresas. Com isso conseguimos participar dos principais projetos de TIC dessas empresas, que normalmente replicam esses projetos não apenas para o resto do Brasil, como para o resto da América do Sul”, reforça, comemorando um crescimento de 10% este ano, apesar da retração. “Para 2017, a gente está apostando na realidade virtual.”