Em busca de mercado no Canadá Qualidade de vida do país atrai brasileiros que tentam capacitação e emprego em suas áreas profissionais

GABRIELA ARAÚJO
Especial para o Diario
gabriela.araujo@diariodepernambuco.com.br

Publicação: 19/08/2017 03:00

O Canadá já é conhecido como um destino de intercâmbio muito procurado pelos brasileiros. De acordo com o Consulado Geral do Canadá em São Paulo, em 2016, cerca de 26 mil intercambistas do Brasil foram ao país, que chama atenção pela qualidade de vida. Mas o que vem mudando no cenário é que, agora, o desejo de ir ao Canadá não surge apenas com o objetivo de aprender francês ou inglês. O foco tem sido as oportunidades de capacitação e empregos. A consequência é a imigração.

Em 2006, o número de imigrantes brasileiros no Canadá era 1.181. Em 2015, último ano divulgado pelo governo daquele país, chegava a 1.750. Segundo Emerson Fernandes, diretor do Canadá sem Fronteiras, assessoria de intercâmbio e imigração com sede em São Paulo, considerando os últimos 12 meses, o Recife é a terceira cidade do Brasil com maior volume de demanda na empresa, ficando atrás apenas de São Paulo e Rio de Janeiro. Para ele, a crise econômica do país é o que vem levando as pessoas a se arriscarem em um país estrangeiro.

O governo canadense busca manter o crescimento da população em cerca de 2,2% ao ano, já que a taxa de natalidade é baixa (10,28 nascimentos por mil habitantes, em 2015). No Brasil, estava em 14,16 por mil habitantes em 2015.

O governo canadense oferece benefícios que estimulam a chegada dos estrangeiros. Segundo o setor de vistos e imigração do Consulado Geral do Canadá em São Paulo, a província do Québec, por exemplo, é muito ativa na procura de novos moradores, e sempre envia representantes ao Brasil para fazerem palestras e atraírem as pessoas. A maior procura está sendo na área de Tecnologia da Informação (T.I). Há alguns anos, o foco era a área de saúde. As pessoas aprovadas para residência permanente recebem apoios como treinamento em idiomas oficiais (inglês e francês), assistência em emprego e suporte de comunidade. Basicamente, os únicos vetos aos imigrantes são voto e disputa para cargos políticos.

Há uma relativa facilidade no processo imigratório e muitas opções de vistos e imigração, e o tipo a ser escolhido depende do perfil de cada um. Segundo Emerson, existem alguns requisitos a serem preenchidos para a residência permanente, como a proficiência em língua inglesa e/ou francesa. É possível ir ao Canadá ingressando em um programa acadêmico em college, no qual o aplicante principal tem permissão de trabalho de 20 horas semanais durante o período letivo, atrelado ao visto de estudos. Já o cônjuge da pessoa tem permissão aberta de trabalho de 40 horas semanais.

Esse foi o caso de Roberto Rodrigues, 38 anos, e de Lívia de Menezes, 28 anos, casados. Roberto é da área de Tecnologia da Informação (TI). Lívia é engenheira industrial. Eles moravam no Ceará e, em abril, mudaram-se. Lívia está fazendo mestrado em Engenharia Industrial na Concordia University, localizada em Montreal, na província do Québec.

“Eu procurei por um mestrado que fosse como uma especialização do meu curso. O conteúdo é bem parecido com o que estudei na Universidade Federal do Ceará (UFC), mas é mais aprofundado”, explica a engenheira. A capacitação dura dois anos e custa 28 mil dólares canadenses (o dólar canadense estava cotado a R$ 2,50). O processo de submissão demorou três meses para Lívia. Ela e Roberto pesquisaram sobre a demanda de suas áreas e perceberam que as oportunidades seriam boas. Lívia não está trabalhando no momento porque preferiu se dedicar exclusivamente aos estudos. Mas tem cadastro em plataformas de busca de empregos, como o Linkedlin. Ela também tinha enquanto morava no Brasil. Semanalmente, recebia alertas de 2 ou 3 vagas. “No Canadá recebo alertas todos os dias e um tem pelo menos umas 15 vagas em grandes empresas”, conta.

Para ser aceito como morador do Canadá, é preciso contribuir com a economia do país de alguma forma. No caso dela, está fazendo isso com o pagamento do mestrado e, quando concluir, como mão de obra. É importante lembrar que a pessoa precisa comprovar que tem o dinheiro suficiente para pagar o curso e se sustentar nas terras canadenses. Já Roberto, assim que chegou no Canadá, fez um curso de inglês por um mês e outro de francês para praticar e se preparar para as entrevistas do mercado, já que, na área dele, a maioria das oportunidades de trabalho é bilíngue (inglês e francês). No Brasil, Roberto era funcionário público terceirizado, e foi a instabilidade que despertou nele o desejo de tentar algo novo no Canadá, que o atraiu pela estabilidade econômica, valorização profissional e processo imigratório facilitado.

Além disso, Rodrigues considera o custo de vida bom, que fica em torno de 1,8 mil dólares canadenses por mês para o casal. Após terminar os cursos, ele preparou o seu currículo nos moldes do Canadá e, uma semana depois, conseguiu emprego. Trabalha como analista de suporte e operações em uma desenvolvedora de softwares. “Não foi sorte, foi a preparação. “Gastei por volta de R$ 13 mil em educação no Brasil, com cursos, certificações e provas”, pontua.

Levantamento

Número de estudantes brasileiros (com cursos de mais de 6 meses) no Canadá:


2006              2,622
2007                 3,204
2008         4,120
2009           4,558
2010            4,884
2011                5,691
2012              8,254
2013               12,241
2014                        14,316
2015                     13,720

Número de imigrantes brasileiros no Canadá:


2006         1,181
2007           1,745
2008             2,137
2009              2,510
2010               2, 598
2011          1,508
2012           1,641
2013           1,712
2014            1,916
2015           1,750

Fonte: Setor de imigração e vistos do Consulado Geral do Canadá em São Paulo

Principais tipos de imigração para o Canadá:

Express Entry: É  o sistema pelo qual são gerenciados os candidatos aos programas de imigração. São convidados para apresentar pedido de imigração os candidatos que apresentarem pontuação mais alta na somatória de diversos fatores, como experiência profissional e educação.

Trabalhador qualificado para o Québec:  A província de Québec possui um acordo especial como o governo federal canadense, pelo qual determina critérios próprios de seleção de imigrantes que melhor se adaptem a viver na província.

Start-up visa: Voltado para imigrantes  empreendedores com capacidade para iniciar um negócio no Canadá que seja inovador, crie empregos e que possa competir em escala global.

Self-employed: Focada em empreendedores individuais na área cultural ou esportiva; ou para fazendeiro. É necessário comprovar experiência nessas áreas.

Classe Família: Imigração por  ‘apadrinhamento’  /’patrocínio’: É possível “apadrinhado” pelos parentes para se tornarem imigrantes:  cônjuge ou parceiro em comprovada união estável; filhos dependentes com menos de 19 anos solteiros; filhos adotados; pais e avós.

Atlantic Immigration Pilot: Voltado a trabalhadores qualificados ou estudantes graduados para preencher demandas nos mercados de trabalho de New Brunswick, Prince Edward Island, Nova Scotia, ou Newfoundland and Labrador.

Cuidadores: Imigração baseada em experiência comprovada de no mínimo 2 anos de trabalho no Canadá na área do cuidados com crianças, idosos ou pessoas com necessidades médicas.

Fonte: setor de vistos e imigração do Consulado Geral do Canadá em São Paulo