A luta é pelo emprego no estaleiro Sindicato dos metalúrgicos teme que novas regras da ANp tornem importação mais interessante que produção local

ANDRÉ CLEMENTE
andre.clemente@diariodepernambucano.com.br

Publicação: 19/10/2017 03:00

Com a vitória dos estaleiros nacionais a partir da mudança da Medida Provisória (MP) proibindo o governo de isentar de impostos a importação de equipamentos da indústria naval na área de transporte (transbordo e escoamento da extração do petróleo e derivados), a luta dos trabalhadores a partir de agora é pela manutenção dos empregos. Segundo eles, a importação terá tributação, mas não será proibida. Muito pelo contrário. De acordo com as novas regras da Agência Nacional do Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis (ANP), os mecanismos que compõem as regras de aplicação de conteúdo local serão flexibilizados a partir de 2018. A pergunta é: a indústria vai continuar viva, mas e os empregos?

A representação do Sindicato dos Metalúrgicos de Pernambuco (Sindmetal-PE) lembra que a obrigação cai de 60%, em média, para aproximadamente 30% e, fazendo conta, pode ser mais barato importar a escolher comprar ou produzir em território nacional, decisão que reflete diretamente nos empregos. Henrique Gomes, presidente do Sindmetal-PE, destaca que os estaleiros, a exemplo do Atlântico Sul, utilizaram o fator “empregos e familias” para reverter o texto da MP que “acabaria com a indústria nacional” e pergunta: “Vai manter (a justificativa)?”.

O EAS emprega atualmente 3,5 mil pessoas na produção de navios que utilizam cerca de 65% de conteúdo local. “Se a obrigação de utilizar produtos brasileiros passa de 60% para 25% ou 30%, significa um corte pela metade de fornecedores e produtores nacionais deixando de trabalhar para o estaleiro e boa parte do serviço vindo pronto do exterior. O que vamos levar para as empresas é: se metade dos equipamentos vai ser importado, metade dos trabalhadores vão ser demitidos?”, questiona.

Segundo ele, os trabalhadores foram um dos instrumentos usados no apelo do estaleiro de que a MP destruiria as empresas. “Nosso movimento será nesse sentido. Se vai manter o nível de conteúdo local para manter os empregos ou até aumentar o que se importa, mas que os empregos continuem”, complementou, pontuando que, atualmente, o EAS exporta pequenas peças e pode passar a importar grandes blocos de equipamentos, que demandam mais profissionais locais. O EAS foi procurado, mas não se posicionou sobre a demanda dos trabalhadores.