Na rota dos negócios da China
Pernambuco desperta para os chineses um leque de oportunidades para investimentos nos próximos anos
ANDRÉ CLEMENTE
andre.clemente@diariodepernambuco.com.br
Publicação: 14/10/2017 03:00
Dentro de todos os cenários de instabilidade política e econômica brasileira, poucos países mantiveram a sede de investir por aqui como a China. Agora, o apetite aguçou. Além de serem entusiastas do país, o cardápio de ativos brasileiros está barato na oferta de privatizações anunciadas pelo governo Michel Temer. A relação próxima com Pernambuco faz a China pontuar diversos setores que podem receber investimentos diretos no estado e já alerta para o Nordeste como a principal região fora do eixo Sul-Sudeste. Nos próximos 12 meses, empresas chinesas pretendem aplicar entre US$ 15 bilhões e US$ 20 bilhões no Brasil e Pernambuco tem margem para receber uma fatia disso em diversos setores. Só para listar alguns “interesses”, geração e transmissão de energia de todos os tipos estão na lista, principalmente renováveis. Na infraestrutura, o radar vai de ferrovias, passa pela expansão do metrô e considera até o saneamento e, nas privatizações em vista, a China pode concorrer à administração do Aeroporto Internacional do Recife/Guararapes - Gilberto Freyre e da Companhia HidroElétrica do São Francisco (Chesf).
De acordo com o presidente da Câmara de Comércio e Indústria Brasil-China (CCIBC), Charles Tang, Pernambuco sempre se mostrou um estado importante do Nordeste, principalmente pelo interesse nos últimos anos de se mostrar para receber aportes estrangeiros. E alguns potenciais já aparecem com clareza. “Pernambuco atua no setor de gás natural. Isso pode requerer uma planta flutuante de regaseificação, ou seja, um navio que faça o processo de transformação do gás e permita distribuir a energia que gerar. É uma área que a China atua e, se viesse para Pernambuco, exigiria investimentos de centenas de milhões de dólares, por exemplo”.
As possibilidades são diversas, segundo Tang. “Pernambuco poderia ter uma usina nuclear, poderia receber investimentos que ampliassem as regiões atendidas pelo metrô, poderia receber o VLT (Veículo Leve sobre Trilhos) conectando o Aeroporto dos Guararapes ao Centro da capital. Falta saneamento no estado, linhas de transmissão de energia e ferrovias”, elenca Tang, ampliando ainda mais o leque. “Na área industrial, poderia ter plantas de placas solares e de aerogeradores (eólica). Por que não uma fábrica de vergalhões para atender a construção civil? Não existe fábrica de trilhos, que é importante e não tem no estado”, cogita.
Em relação aos ativos em Pernambuco que devem entrar nos lotes de privatização do governo federal, como o Aeroporto dos Guararapes e a Chesf, a sinalização é que a China deve concorrer. “A privatização é um sinal que o Brasil quer se modernizar, evoluir e se desprender de amarras que travam o país. A crise deixou os ativos brasileiros baratos e a China aposta no Brasil, apesar da falta de previsibilidade a longo prazo. O investimento se concretizará com a parceria, porque a China vai investir, mas precisa de uma ponta que entenda as oportunidades e os problemas do Brasil e das regiões. Afinal, a China ajuda na prosperidade dos países que entra, mas também quer ganhar”.
De acordo com os estudos do Conselho Empresarial Brasil-China (CEBC), até 2016, cerca de 20 empresas chinesas anunciaram investimentos no Nordeste, com participação de áreas como automotiva (JAC Motors, Zotye), de infraestrutura (China Communications Construction Company), agronegócio (COFCO), energia (China Three Gorges), dentre outros.
Tulio Cariello, coordenador de análise e pesquisa do CEBC, ressalta que, no ano passado, o Nordeste captou 17% dos projetos de investimento no Brasil, empatando em segundo lugar com o Centro-Oeste e ficando atrás de São Paulo: 56%. “Da mesma forma, o Nordeste se mostrou relevante nos anos anteriores: entre 2014 e 2015, respondeu por 12% dos investimentos e, entre 2012 e 2013, por 17%. Em Pernambuco, sabemos que estão presentes no estado empresas de máquinas e equipamentos e do setor automotivo, como Xuzhou Construction Machinery Group (XCMG), Shaanxi Automobile Group (SAG) e Shineray”.
No mapa
Setores e projetos potenciais de Pernambuco que podem entrar na mira da China
Geração de energia
gigante asiático retoma investimentos no Brasil, compra empresas e foca em infraestrutura
2016
Total de US$ 12,5 bilhões em investimentos, sendo US$ 8,4 bilhões informados.
Veja alguns deles:
Empresa origem Empresa destino Setor Estado Valor (em US$ milhões) Ingresso
China Construction Bank BIC Banco Financeiro SP 200 Fusão/aquisição
Hunan Dakang Pasture Farming Fiagril Agronegócio MT 200 Fusão/aqusição
China Communications
Construction Company (CCCC) Wtorre Infraestrutura MA 115 Joint venture
CCCC Concremat Infraestrutura RJ 100 Fusão/aquisição
State Grid CPFL Energia SP 4.080 Fusão/aquisição
State Grid CPFL Renováveis Energia SP 910 Fusão/aquisição
Midea Springer Eletrodomésticos SP/RS 4,3 Joint venture
CBSteel ---------- Suderurgia MA 3.500 Greenfield
Cmoc/China Molybdenum Anglo American Mineração GO/SP 1.700 Fusão/aquisição
China Three Gorges DukeEnergy International Brazil Holdings Energia SP 1.200 Fusão/aquisição
China Investiment Corporation Petrobras Energia RJ 441 --------
Retomada
Ingresso
Chineses preferem entrar no país com aquisições e fusões
53% fusão e aquisição
27% greenfield (do zero)
20% joint venture (operação conjunta)
Ápice dos investimentos foi em 2010, mas evolução ganha novas impulsão em 2015
Negócios (em US$ milhões)
Ano total confirmados
2007 564 549
2010 35.792 13.090
2011 11.880 8.030
2012 4.791 3.449
2013 3.645 3.415
2014 2.036 1.730
2015 9.382 7.446
2016 12.538 8.397
Setores
Chineses investem pesado em energia, siderugia e mineração em 2016 (em US$ milhões)
Energia 6.654
Siderurgia 3.500
Mineração 1.700
Infraestrutura 215
Agronegócio 200
Eletrodomésticos 64,3
Automobilismo 8,6
De acordo com o presidente da Câmara de Comércio e Indústria Brasil-China (CCIBC), Charles Tang, Pernambuco sempre se mostrou um estado importante do Nordeste, principalmente pelo interesse nos últimos anos de se mostrar para receber aportes estrangeiros. E alguns potenciais já aparecem com clareza. “Pernambuco atua no setor de gás natural. Isso pode requerer uma planta flutuante de regaseificação, ou seja, um navio que faça o processo de transformação do gás e permita distribuir a energia que gerar. É uma área que a China atua e, se viesse para Pernambuco, exigiria investimentos de centenas de milhões de dólares, por exemplo”.
As possibilidades são diversas, segundo Tang. “Pernambuco poderia ter uma usina nuclear, poderia receber investimentos que ampliassem as regiões atendidas pelo metrô, poderia receber o VLT (Veículo Leve sobre Trilhos) conectando o Aeroporto dos Guararapes ao Centro da capital. Falta saneamento no estado, linhas de transmissão de energia e ferrovias”, elenca Tang, ampliando ainda mais o leque. “Na área industrial, poderia ter plantas de placas solares e de aerogeradores (eólica). Por que não uma fábrica de vergalhões para atender a construção civil? Não existe fábrica de trilhos, que é importante e não tem no estado”, cogita.
Em relação aos ativos em Pernambuco que devem entrar nos lotes de privatização do governo federal, como o Aeroporto dos Guararapes e a Chesf, a sinalização é que a China deve concorrer. “A privatização é um sinal que o Brasil quer se modernizar, evoluir e se desprender de amarras que travam o país. A crise deixou os ativos brasileiros baratos e a China aposta no Brasil, apesar da falta de previsibilidade a longo prazo. O investimento se concretizará com a parceria, porque a China vai investir, mas precisa de uma ponta que entenda as oportunidades e os problemas do Brasil e das regiões. Afinal, a China ajuda na prosperidade dos países que entra, mas também quer ganhar”.
De acordo com os estudos do Conselho Empresarial Brasil-China (CEBC), até 2016, cerca de 20 empresas chinesas anunciaram investimentos no Nordeste, com participação de áreas como automotiva (JAC Motors, Zotye), de infraestrutura (China Communications Construction Company), agronegócio (COFCO), energia (China Three Gorges), dentre outros.
Tulio Cariello, coordenador de análise e pesquisa do CEBC, ressalta que, no ano passado, o Nordeste captou 17% dos projetos de investimento no Brasil, empatando em segundo lugar com o Centro-Oeste e ficando atrás de São Paulo: 56%. “Da mesma forma, o Nordeste se mostrou relevante nos anos anteriores: entre 2014 e 2015, respondeu por 12% dos investimentos e, entre 2012 e 2013, por 17%. Em Pernambuco, sabemos que estão presentes no estado empresas de máquinas e equipamentos e do setor automotivo, como Xuzhou Construction Machinery Group (XCMG), Shaanxi Automobile Group (SAG) e Shineray”.
No mapa
Setores e projetos potenciais de Pernambuco que podem entrar na mira da China
Geração de energia
- Via gaseificação
- Solar
- Eólica
- Usina nuclear
- Implantação de linhas de transmissão
- Ampliação da linha do metrô
- Ferrovia
- VLT conectando aeroporto ao Centro do Recife
- Estradas
- Saneamento
- Fábrica de placas solares para geração de energia
- Planta de aerogeradores
- Fábrica de trilhos
- Aeroporto Internacional dos Guararapes/Gilberto Freyre
- Geração de energia da Chesf
- Anúncios e negócios dão conta de investimentos de R$ 24,1 bilhões (cerca de US$ 7,6 bilhões)
- Em janeiro, a State Grid, maior empresa do setor elétrico do mundo, adquiriu 54,6% de participação acionária da CPFL Energia por R$ 14 bilhões e se tornou acionista controladora da empresa
- Em abril, a State Power Investiment Corporation (Spic) finalizou a compra dos ativos da Pacific Hydro Brasil
- Em junho, a Spic fez oferta por parte da Usina Hidrelétrica Santo Antonio, mas não concluiu o negócio
- Em julho, o grupo HNA compra a participação de 31% da Odebrecht na concessionária do Aeroporto Galeão (RJ) por cerca de R$ 60 milhões
- No início de setembro, a China Merchants Port Holdings comprou 90% da operadora portuária TCP Participações, no Porto de Paranaguá (PR), por R$ 2,9 bilhões
- A Pacific Energy, subsidiária da Spic, ofereceu R$ 7,2 bilhões de bônus de outorga pela Usina Hidrelétrica de São Paulo e arrematou o ativo em leilão no dia 27 de setembro
gigante asiático retoma investimentos no Brasil, compra empresas e foca em infraestrutura
2016
Total de US$ 12,5 bilhões em investimentos, sendo US$ 8,4 bilhões informados.
Veja alguns deles:
Empresa origem Empresa destino Setor Estado Valor (em US$ milhões) Ingresso
China Construction Bank BIC Banco Financeiro SP 200 Fusão/aquisição
Hunan Dakang Pasture Farming Fiagril Agronegócio MT 200 Fusão/aqusição
China Communications
Construction Company (CCCC) Wtorre Infraestrutura MA 115 Joint venture
CCCC Concremat Infraestrutura RJ 100 Fusão/aquisição
State Grid CPFL Energia SP 4.080 Fusão/aquisição
State Grid CPFL Renováveis Energia SP 910 Fusão/aquisição
Midea Springer Eletrodomésticos SP/RS 4,3 Joint venture
CBSteel ---------- Suderurgia MA 3.500 Greenfield
Cmoc/China Molybdenum Anglo American Mineração GO/SP 1.700 Fusão/aquisição
China Three Gorges DukeEnergy International Brazil Holdings Energia SP 1.200 Fusão/aquisição
China Investiment Corporation Petrobras Energia RJ 441 --------
Retomada
Ingresso
Chineses preferem entrar no país com aquisições e fusões
53% fusão e aquisição
27% greenfield (do zero)
20% joint venture (operação conjunta)
Ápice dos investimentos foi em 2010, mas evolução ganha novas impulsão em 2015
Negócios (em US$ milhões)
Ano total confirmados
2007 564 549
2010 35.792 13.090
2011 11.880 8.030
2012 4.791 3.449
2013 3.645 3.415
2014 2.036 1.730
2015 9.382 7.446
2016 12.538 8.397
Setores
Chineses investem pesado em energia, siderugia e mineração em 2016 (em US$ milhões)
Energia 6.654
Siderurgia 3.500
Mineração 1.700
Infraestrutura 215
Agronegócio 200
Eletrodomésticos 64,3
Automobilismo 8,6