ENTREVISTA » O que eles pensam dos seus bairros O Diario de Pernambuco ouviu moradores e comerciantes dos bairros da Caxangá, Madalena e Torre (vizinha da Madalena e tão próxima a ela que as ruas de um e de outro, para muitos, confundem-se). Afinal, a Rua Real da Torre, por exemplo, não fica localizada no bairro com esse nome e sim, na Madalena. À nossa reportagem, eles falaram sobre as suas histórias, vivências e desejos de melhoria para estas áreas localizadas na Zona Norte e Oeste do Recife e que têm, em comum, uma forte e diversificada malha comercial.

Publicação: 30/08/2018 03:00

Madalena

Publicitária Marta Lima, 61 anos, recorda infância

Qual a sua relação com o bairro da Madalena?
Tão especial que minha agência de publicidade e o Café Bistrô ficam na mesma casa onde passei minha infância. Vim morar na Avenida Beira-Rio quando tinha 2 anos, em 1959, e fiquei lá até os 18 anos. Viajei para estudar na Suíça e meu irmão abriu um bar, mais ou menos entre 1976 e 1977. Depois de uns cinco anos, ele repassou para um amigo, que o comandou por volta de 15 anos. Em 1998, já com o bar fechado, pedi a casa de volta e, lá, montei a minha agência de publicidade, a Marta Lima. Voltei para casa, literalmente. Há cerca de um ano e meio, iríamos alugar a parte de baixo, quando meu filho e sua esposa tiveram a ideia de montar um café. Daí, o surgimento do Café e Bistrô Meio do Mundo.

Quais as suas memórias relacionadas ao bairro?
Cheguei a ver palafitas na beira do rio. Andava na avenida descalça, de bicicleta, soltava peão e pipa com os meninos da comunidade. Ficava na lama, catando caranguejo, tomando banho de rio. Estar trabalhando atualmente, neste mesmo lugar, me traz lembranças? Claro que sim. Às vezes, paro no café, sento e passam alguns filmes do passado na minha cabeça. Era um local animado, meus pais tinham cinco filhos (eu, a única menina) em uma casa que era um verdadeiro zoológico, onde criávamos cabra (tomando leite fresco), cachorro, coelho, galinha, preá e um tanque cheio de tilápias.

Atualmente, o que o bairro tem de melhor?
A Madalena oferece muitos serviços. Tudo aqui pode ser feito a pé. Não temos mais a diversão do cinema da Torre, por exemplo, mas possuímos farmácias, padarias, lojas de produto natural, delicatessens, sorveterias, lanchonetes, etc.

O que precisa melhorar na Madalena?
O que já está planejado pela Prefeitura do Recife, que é a exploração das margens do rio, com o Projeto Capibaribe. Será maravilhoso. Se houver investimento nas ciclovias permanentes da região, todo o trânsito (que é um caos) também vai melhorar. Acredito que o projeto irá, ainda, contribuir com a questão da segurança, humanizando mais e explorando melhor o rio, tão bonito, mas tão pouco visto por causa da alta plantação à sua volta. Caso haja uma ponte de pedestres, teremos uma visualização ainda melhor dele.

O que você mais gosta de fazer na Madalena e indica às outras pessoas?
Caminhar pela Beira-Rio, por exemplo, neste trecho entre as Pontes da Torre e da Capunga. Adoro o Mercado da Madalena, que considero bem raiz, onde gosto de tomar café da manhã e uma cerveja.  

Caxangá

Comerciante Jarbas Farias, 41 anos, e sua memória
 
Qual sua relação com o bairro da Caxangá?
Trabalho (é dono do Restaurante Portal da Carne de Sol) e moro próximo à Avenida Caxangá há 9 anos. Comercializar aqui é um desafio, pois temos grandes concorrentes na área. Para vencer, o segredo é ter a mesma qualidade, lidar bem com os funcionários e trabalhar bastante as variadas mídias. Além disso, prezo muito pela relação de amizade com meus clientes. Costumo dizer que, na verdade, não trabalho, tenho prazer de estar aqui, no que considero a minha casa. Chego a me emocionar, algumas vezes, só de falar com esses clientes.

Quais melhores lembranças que guarda deste bairro?
Estando na Caxangá, vendo todo o congestionamento, lembrar de como construímos um refúgio no meio dessa atribulação, que é a minha horta. Junto com meus filhos, de 9 anos e 14 anos, construí essa plantação orgânica ao lado do restaurante com a diversidade de itens como alho, pimentas variadas, hortelã, capim santo, etc.
 
O que precisa melhorar na Caxangá?
O bairro ainda tem muitas ruas, aquelas pequenas de que muita gente esquece, descalçadas. É preciso melhorar a acessibilidade, tanto que temos um projeto de colocar uma van para pegar os clientes em pontos específicos (ou onde solicitarem via mídias sociais). Acredito, também, que é preciso melhorar a questão da segurança. Desde manhã cedo até o meio da tarde por exemplo, não costuma passar nenhum carro de polícia aqui.
 
O que mais gosta de fazer na Caxangá e indicaria para outras pessoas?
Caminhar no Canal do Cavouco e jogar bola na Praça do Canal
 
Torre

Histórias do cabeleireiro Edelson Barbosa, 68 anos

Qual a sua relação com o bairro da Torre?
Moro na Torre há 34 anos. Comecei a trabalhar aqui antes disso, há 55 anos, quando montei meu primeiro salão no também primeiro edifício do bairro: o Edifício Santo Agostinho, na Rua Conde de Irajá. Aqui, tive oito filhos e 16 netos.

Quais as suas memórias relacionadas ao bairro?
Quando cheguei na Torre, a Beira-Rio praticamente não existia, era uma rua cheia de lama. Já havia a Padaria Nova Armada, mas era algo muito diferente do que é hoje. Recordo com muito carinho do antigo cinema da Torre, atração dominical de todos da redondeza. No Sesi, também aos domingos, tínhamos ainda a manhã de sol, um ambiente agradável, muito frequentado por jovens. No campo de futebol Art, surgiram vários jogadores de futebol que depois ficaram famosos, como Ricardo Rocha (que era meu vizinho), Zequinha (ex-atleta do Santa Cruz), Jadir, Adelmo, Gustavo Klaus, enfim.

O que precisa melhorar na Torre?
A questão da segurança. Hoje, realmente, é um perigo andar pelas ruas, mesmo quando estamos próximos de uma área movimentada, com estabelecimentos de grande fluxo de pessoas, como o Colégio Equipe. A limpeza urbana também vem deixando muito a desejar.

O que você mais gosta de fazer na Torre e indica às outras pessoas?

A Avenida Beira-Rio em dias de domingo, e sua pracinha, são muito interessantes. Assim como é, também, um ótimo lugar para fazer passeios noturnos. Na Igreja da Torre, a celebrada festa de Santa Luzia movimenta a área anualmente, a cada dia 13 de maio. Nunca deixo de ir. Assim como já é uma tradição para mim passar a noite do Réveillon dentro dessa igreja há mais de 40 anos.