Consumo voltará em ritmo lento

Publicação: 01/06/2020 05:30

A Confederação Nacional da Indústria (CNI), diretamente impactada pelas vendas do varejo, ouviu mais de dois mil trabalhadores no início deste mês para entender o real impacto do coronavírus na economia brasileira. A pesquisa mostra que há fundamento para os receios. Segundo o estudo, 40% dos brasileiros passaram a ganhar menos durante a pandemia, e 77% dos trabalhadores ainda têm medo de perder o emprego nessa crise.

Nesse cenário de risco, muita gente mudou totalmente os hábitos de consumo diante da Covid-19. De acordo com a pesquisa, 74% dos brasileiros já reduziram gastos desde o início da quarentena e passaram a comprar basicamente produtos essenciais, como alimentos e remédios, seja porque não sabem se terão renda daqui a alguns meses, seja porque estão ganhando menos. E 29% dizem que essa redução de gastos será permanente. Não bastasse isso, mais de 40% dos consumidores afirmam que vão passar a frequentar menos os shoppings e o comércio de rua depois que a circulação urbana voltar a ser permitida, por medo de uma segunda onda da Covid-19.

“Não sabemos como vai ser a flexibilização. E, mesmo quando houver, o consumo não vai voltar de maneira rápida, porque as pessoas estarão mais cautelosos, seja pelo risco da contaminação, seja pelo medo do desemprego. Por isso, vão segurar por um pouco mais os gastos não essenciais”, observa o economista da FGV/Ibre, Rodolpho Tobler. Ele afirma que os setores de bens semiduráveis e duráveis, cuja compra pode ser postergada, serão os mais atingidos nessa retomada.

Por essas razões, nenhum dos especialistas vislumbra uma saída rápida para o comércio. Tobler acredita que o pior período do ano para a economia brasileira será este segundo trimestre, que está só na metade. E diz que os impactos dessa crise serão sentidos até o fim do ano. “É difícil ver o varejo encontrando uma saída para a queda nas vendas ainda no Dia dos Namorados, no Dia dos Pais, na Black Friday ou mesmo no Natal. Crescer as vendas em relação ao ano anterior, só no próximo ano”, afirma Bentes. O Ibevar tem uma expectativa ainda menos otimista. “Na crise de 2008, foram necessários 15 meses para as vendas voltarem a crescer. Então, acredito que dificilmente vamos recuperar no ano de 2021. Só em 2022”, acrescenta Claudio Felisoni.

O ritmo lento de retomada não preocupa apenas os varejistas. É que o comércio representa cerca de 25% dos empregos formais do Brasil. E o setor terciário, que engloba o comércio e a prestação de serviços, igualmente impactada pelo coronavírus, representa 2/3 do Produto Interno Bruto (PIB) do Brasil. Não bastasse isso, a demanda do comércio influencia diretamente a produção da indústria brasileira e os empregos e PIB do Brasil.(Do Correio Braziliense)