Endividamento atinge 80% das famílias Da fatia total de endividados em Pernambuco, 30% enfrentam contas em atraso. Para analistas, acesso fácil ao crédito é o grande vilão

Thatiany Lucena

Publicação: 17/05/2024 03:00

O endividamento segue crescendo em Pernambuco. Em abril, 80,8% das famílias pernambucanas estavam endividadas, das quais 30% enfrentavam contas em atraso e 15,8% não podiam pagar suas dívidas. O cartão de crédito representou 93,7% das dívidas, seguido por carnês (24,8%) e crédito pessoal (6,8%). O atraso médio no pagamento era de 62 dias, comprometendo 30,8% da renda.

Os dados são do recorte local feito pela  Federação do Comércio de Bens, Serviços e Turismo do Estado de Pernambuco (Fecomércio-PE), sobre a Pesquisa de Endividamento e Inadimplência do Consumidor (Peic), elaborada pela CNC.

A pesquisa também mostrou as diferenças entre famílias com renda de até 10 salário mínimos e aquelas com renda superior a 10 salários mínimos. Enquanto 32,3% das famílias de menor renda tinham dívidas em atraso, apenas 5,9% das mais ricas estavam nessa situação.

Segundo o presidente da CNC, José Roberto Tadros, esse movimento de crescimento no endividamento é reflexo da queda da taxa de juros, que estimula o acesso ao crédito por conta de um menor custo financeiro. “As projeções da Confederação indicam que o endividamento deve continuar em ascensão, o que exigirá maior atenção ao risco de aumento da inadimplência, especialmente no fim do ano”.

Economista da Fecomércio-PE, Rafael Lima partilha da mesma observação.  “O recente aumento do endividamento e da inadimplência em Pernambuco está diretamente relacionado à maior acessibilidade ao crédito disponibilizada aos consumidores, impulsionada pelo atual cenário de redução das taxas de juros no mercado. Vale ressaltar que esse comportamento não é exclusivo de Pernambuco, mas sim uma tendência nacional. O endividamento é uma ocorrência esperada entre consumidores com menor disponibilidade de renda; no entanto, a preocupação está no avanço da inadimplência, que voltou a crescer após cinco meses de recuos”, aponta.

Para o economista Tiago Monteiro, o cartão de crédito é o principal vilão do endividamento em todo o Brasil e isso se dá porque ele é visto como uma extensão artificial do poder aquisitivo. “Então, uma pessoa que ganha um salário mínimo, dois salários mínimos tem basicamente o dobro ou triplo desse recurso via crédito destinado por um banco”, comenta.