2025 herda economia acelerada e juros Novo ano vem no ritmo do antecessor, quando o crescimento superou as expectativas e lidou com a queda do desemprego e com a alta dos preços

Thatiany Lucena

Publicação: 01/01/2025 03:00

No ano que passou, o Brasil foi impactado por diversos acontecimentos como o crescimento econômico nacional, que passou de 3,2% para 3,5%, de acordo com a última projeção do Banco Central, ainda em 2024.

Porém, esse avanço na expansão do Produto Interno Bruto (PIB) acontece além da capacidade de oferta do país, algo que reflete na alta dos preços dos produtos, afetando diretamente no bolso do consumidor. A nível mundial, o Brasil segue se destacando pela exportação de commodities, inclusive com a possibilidade de ser beneficiado diante da iminência de uma guerra comercial provocada pelos Estados Unidos.

Em entrevista ao Diario, o economista Luiz Maia, professor da UFRPE, traz um panorama econômico sobre os principais destaques que seguem influenciando o país neste ano novo. Segundo ele, apesar de ir contra as expectativas de desaceleração, o país continuou sendo impulsionado por um crescimento acelerado de 3% ao ano.

Entrevista: Luiz Maia //Economista e professor da UFRPE

ACELERAÇÃO
A gente imaginava que a economia ia desacelerar porque a taxa de juros ainda estava muito alta, mas a economia não desacelerou (em 2024). O que se observou é que o ritmo de gastos públicos e o ritmo de concessão de benefícios sociais vinham se tornando aquilo que a gente imaginava. Então, a economia vem surpreendendo os economistas há anos, já tem uns quatros anos que a gente faz previsão e erra.

 

SETOR IMOBILIÁRIO 

No início de 2024, havia uma expectativa de crescimento muito fote para o setor imobiliário. Dizia-se: “ah, venda de imóveis vai bombar porque está com juros caindo e isso estimula as pessoas a comprarem a casa própria porque os acordos vão ficando mais baixos e a prestação vai ficando menor. Muita gente vai lá buscar o sonho da casa própria”. Mas no meio do ano, a gente teve esse cavalo de pau, com juros que tiveram que voltar a subir. Então, o que vinha bem acabou sendo um balde de água fria.

 

QUEDA DO DESEMPREGO 

No caso de 2024, um aspecto muito interessante para perceber é como a economia estava completando o terceiro ano de crescendo ao ritmo de 3% ao ano. Então houve um crescimento muito forte do emprego. Em alguns lugares do país, como São Paulo, a taxa de desemprego está menor que 3%, isso é inacreditável. Em alguns estados do Sul, a taxa de desemprego também está muito baixa. Aqui em Pernambuco, a gente está com uma taxa ainda alta, mas comparado com o padrão anterior está bem mais baixa. A gente já esteve com taxa de desemprego de cerca de 16% e agora, 10%. oferta fraca O Brasil demonstrou em 2024 que é bom em fazer a economia crescer através da demanda, ou seja, através de mais bens, mais consumo, mais investimento e mais exportação. O que a gente não consegue fazer é o crescimento da oferta, ou seja, que a gente tenha mais fábricas e mais capacidade de entrega. Então, se você está crescendo cada vez mais a busca por bens e serviços, mas não está ampliando na mesma proporção, a capacidade de entrega, uma hora vai faltar e o preço vai subir.

 

CONTAS PÚBLICAS

A gente tá vendo um erro se repetir, que é deixar de fazer superávit primário por conta de expandir gastos. O Brasil é viciado, é quase como se fosse um alcoólatra de gastos. Quer sempre expandir gastos. No início de 2024, o governo estava falando em fazer um novo PAC, mas de onde iria sair esse dinheiro? Porque uma das maneiras que o governo vem usando para pagar suas contas é pedindo mais dinheiro emprestado. Então, o governo é viciado em gastar, é quase um alcoólatra que irremediável nega o seu vício. mais

 

DÍVIDA PÚBLICA

Com esse ritmo de gastos, a nossa dívida pública está crescendo muito rapidamente. Isso é a combinação de duas coisas: primeiro, o governo gastando muito mais que arrecada sem fazer superávit primário; segundo, o Banco Central tendo que subir juros para conter a inflação. O juros mais alto sobre a dívida que já existe e gastos que excedem a receita são duas coisas que estão fazendo a dívida crescer. Em um espaço de um ano, a dívida está crescendo ao ritmo de 9% do PIB. Em 12 meses, a dívida sai de algo como 70% para 78% do PIB. Então o mercado vai ficando cético.

 

SETOR PRIVADO

O dinheiro que é colocado pelo governo até movimenta a economia. Só que acontece assim: o governo põe dinheiro e os empresários tiram dinheiro, então um investimento público acaba substituindo o investimento privado. Ao invés de você ter o governo gastando, estimulando a economia, e os empresários também investindo na economia e uma coisa reforçando a outra, o que você tem é uma substituição, porque o governo gasta muito mais. O empresário, quando percebe que o processo de crescimento é instável, frágil e passageiro, ele deixa de confiar.

 

ALTA DOS JUROS

O risco é que a gente vai repetindo erros do passado. Quais são os erros do passado? É a gente ter pequenos e pequenos e curtos períodos de crescimento que são interrompidos pelo aumento da inflação e consequentemente de uma alta do juros.

 

COMÉRCIO INTERNACIONAL

O Brasil tem um papel muito específico no comércio internacional de entregar commodities. A gente explora muito minério de ferro, a gente produz muito aço, muito milho, soja, carne de frango e bovina. A gente é campeão nessa função. Quem é que compra mais da gente? O nosso principal parceiro, a China, mas ela está crescendo menos, com dificuldades no setor imobiliário. No entanto, a China não pode parar de comprar do Brasil. Então a relação do Brasil com o resto do mundo continua favorável.