Separados pela mesma fé
Divergências sobre sucessão do profeta Maomé dividiram muçulmanos em xiitas e sunitas. Reunião no Cairo discutiu a crise
RODRIGO CRAVEIRO
Do correio Braziliense
Publicação: 11/01/2016 03:00
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Protestos pela execução do clérigo xiita Nimr Al-Nimr se espalham por vários países, como no Bahrein |
No dia 2, o reino saudita anunciou a execução do clérigo xiita Nimr Al-Nimr e deflagrou uma revolta no Irã, polo irradiador do xiismo. A embaixada saudita em Teerã foi invadida, Riad rompeu relações diplomáticas com a República Islâmica. Em solidariedade, Bahrein, Somália, Sudão e Djibuti tomaram medidas diplomáticas contra os iranianos. Os incidentes exacerbaram as tensões no islã e ameaçaram nova onda de violência. Estudiosos consultados pelo Correio Braziliense/Diario explicaram que o “cisma” islâmico teve início com a morte de Maomé, no ano 632.
Na Arábia do século VII, havia uma disputa em torna da sucessão. Os xiitas creem que Ali, primo e cunhado do profeta, deveria ter sido o novo líder do islã, enquanto os sunitas aceitam Abu Bakr, aliado de Maomé, como o próximo califa. Essa divergência inicial se desenvolveu em distinções teológicas concretas: os xiitas esperam o retorno de Mahdi, descendente de Ali, espécie de redentor do fim dos tempos” , afirmou o americano-libanês Hassan Mneimneh, especialista em Oriente Médio e Norte da África pelo Middle East Institute (em Washington).
A inimizade entre xiismo e sunismo era considerada marginal, até a emergência de movimentos polarizadores nas duas comunidades. “No islã sunita, surgiu o salafismo, que promove a compreensão radical e exclusiva da fé e rejeita a maior parte da herança da religião; seu maior proponente é o wahhabismo da Arábia Saudita — seita que prega o retorno ao culto monoteísta puro. No islã xiita, a Wilayat Al-Faqih se firmou como a doutrina política oficial do Irã dos aiatolás”, observa Mneimneh. A questão da identidade se fortaleceu após o fracasso do sistema de Estado-nação da Ummh, a comunidade muçulmana. Enquanto coletivos, sunitas e xiitas se comportam mais como nações do que como comunidades religiosas e se escoram em propostas radicais, que acentuam a polarização. “Não se trata de religião, mas de nós contra eles. A religião é um identificador”, acrescenta o analista.