América Latina sem pistas do novo presidente

Publicação: 21/01/2017 03:00

O bilionário Donald Trump ainda não delineou um plano coerente para as relações de Washington com a América Latina, em uma situação que mergulha toda a região na incerteza. Durante toda sua campanha eleitoral e em declarações posteriores à sua vitória, Trump apenas sugeriu que poderia reverter os avanços feitos até agora na reaproximação com Cuba e insistiu na construção de um muro na fronteira com o México para impedir a entrada de imigrantes.

Em um comunicado no site da Casa Branca, ele criticou os acordos comerciais assinados pelos Estados Unidos com o México e Canadá e prometeu abandoná-los, em mais uma ameaça ao Tratado de Livre Comércio da América do Norte. Assim como em outros aspectos de sua plataforma de governo, o novo presidente não esboçou uma estratégia geral ou uma doutrina que possa guiar as relações de Washington com o resto do continente, nem incentivou planos para alianças em que possa estar especialmente interessado.

“Se nossos parceiros rejeitarem uma renegociação que dê aos trabalhadores norte-americanos um acordo justo, então o presidente comunicará sobre a intenção dos Estados Unidos de se retirarem do Nafta”, diz o comunicado.

Para o cientista político e assessor parlamentar Marc Hanson, a análise de possíveis cenários das relações entre Trump e a América Latina é fácil de resumir: “ninguém tem ideia do que podemos esperar”, declarou. Segundo Hanson, é significativo que Rex Tillerson, indicado por Trump para comandar o Departamento de Estado, tenha passado um dia exaustivo respondendo a perguntas de uma comissão do Senado sem fazer qualquer menção à América Latina, além de comentários genéricos sobre Cuba.

Mas ainda com relação a Cuba, acrescentou Hanson, há contradições internas na equipe que cerca o presidente. A equipe de transição ao novo governo no Departamento do Tesouro, afirmou, inclui “o maior lobby de Washington a favor de manter o embargo a Cuba”, mas Tillerson é contrário à aplicação de sanções a países porque as considera um obstáculo para empresas norte-americanas. Trump “é tão confuso, tem um temperamento tão explosivo e tem uma capacidade de concentração tão curta que posso ver como a liderança dos Estados Unidos na região se dissipará a ponto de ser inexistente”, disse Hanson.

Na opinião de Hanson, o “instinto” de Trump “o levará a ser abusivo: quando vir países que não podem se defender sozinhos ou líderes que enfrentam desafios, não hesitará em intimidá-los. Parece não saber exatamente em que direção gostaria que a região avance”. (AFP)