Negociações para o segundo turno no Chile Resultado era esperado no país, mas a alta votação de candidatos "radicais" surpreendeu analistas

Publicação: 21/11/2017 03:00

Santiago (AFP) - O ex-presidente de direita Sebastián Piñera e o senador governista Alejandro Guillier vão disputar em dezembro o segundo turno da eleição presidencial chilena, cujo resultado está em aberto e poderá ser influenciado pela esquerda radical. Embora Piñera tenha vencido o primeiro turno no domingo, como as previsões indicavam, o número de votos obtido pelo ex-presidente (2010-2014) foi menor do que o esperado, com 36,6% dos sufrágios.

Por outro lado, os votos obtidos pela esquerda radical, representada pela jornalista Beatriz Sánchez, superaram todos os prognósticos, deixando-a com a chave para a segunda rodada. “Piñera aparece oito ou nove pontos abaixo do que se esperava e este é um ingrediente que imprime drama e incerteza ao segundo turno. A chave será o que os eleitores que apoiaram Beatriz Sánchez farão”, apontou o analista Marcelo Mella, da Universidade de Santiago.

Nenhuma pesquisa antecipava que Sánchez, uma jornalista de 46 anos que entrou para a política apenas em março, superaria 20% dos votos, o que levou a candidata a criticar as pesquisas, outra das grandes derrotadas deste dia de eleições. “Representa um desejo de renovação que não foi identificado”, ressaltou o líder do partido no poder, Pepe Auth. Cerca de 147 mil votos separaram Sánchez do senador Guillier, de 64 anos, que obteve 22,66% dos votos.

Guillier, que como Sánchez entrou para política depois de uma longa carreira nos meios de comunicação, não deve negligenciar os votos obtidos pela candidata da Democracia Cristã, Carolina Goic (5,88%), que ontem anunciou sua renúncia à presidência do partido, e pelo progressista Marcos Enríquez-Ominami (5,68%), que já deu seu apoio. “Eu não disse que não estou disposto a negociar. Minha obrigação é conquistar seu eleitorado (da Frente Ampla), não conquistar os dirigentes negociando porque isso incomoda as pessoas”, esclareceu Guillier.

Outra surpresa foi José Antonio Kast, o candidato de extrema direita que reivindica o legado da ditadura militar de Augusto Pinochet (1973-1990). Após obter 7,9% dos votos, é mais um jogador-chave para Piñera. Piñera disse que Kast ofereceu seu apoio “sem condições”.

Em um encontro com correspondentes estrangeiros ontem, o ex-presidente afirmou que buscará para o segundo turno o “centro moderado”.  “Em relação a se nossa candidatura vai virar à direita ou à esquerda, nem uma coisa nem outra. Vamos continuar convocando e apelando ao chamado ‘centro social’, que não é o centro político tradicional, é a moderação, é o bom senso; são os chilenos que querem unidade e não divisão”, disse o ex-presidente.