Escalada de violência continua Bombardeios atingem, pelo 4º dia seguido, um reduto rebelde na Síria, elevando para 310 o número de civis mortos desde o último domingo

Publicação: 22/02/2018 03:00

Pelo quarto dia consecutivo, o regime sírio bombardeou, ontem, o reduto rebelde de Ghuta Oriental, perto de Damasco, matando quase 40 civis, apesar dos protestos internacionais. Desde o início, no domingo, de uma nova campanha aérea contra este enclave onde vivem sitiados cerca de 400.000 pessoas, 310 civis, incluindo 72 crianças e 45 mulheres, morreram nos bombardeios, e 1.500 ficaram feridos, segundo o OSDH.

Vários hospitais ficaram fora de serviço e a destruição é enorme nesta vasta região asfixiada desde 2013 pelo cerco do regime e afetada por uma grave crise humanitária, com casos de desnutrição e fome. O Comitê Internacional da Cruz Vermelha (CICR) pediu ontem acesso a Guta Oriental. “Parece que a violência pode provocar mais sofrimentos nos próximos dias e semanas. Nossas equipes devem ter autorização para chegar a Guta Oriental para socorrer os feridos”, destacou Marianne Gasser, representante do CICV na Síria.

Os ataques de ontem se concentraram principalmente nas localidades de Hamuriyé e Kfar Batna, e os aviões do regime também lançaram barris de explosivos, um método denunciado pela ONU e ONGs internacionais. Neste contexto, a Rússia pediu uma reunião do Conselho de Segurança da ONU que se realizará hoje sobre a violência em Ghuta, anunciou o embaixador Vassily Nebenzia. Nebenzia indicou que o encontro permitiria que todos os lados “apresentem sua visão, entendam a situação e criem formas de sair dessa situação”.

Nos hospitais que não foram atingidos, não há leitos e os feridos são tratados no chão, enquanto as salas de cirurgia funcionam a todo vapor. Em um hospital da cidade de Duma, uma enfermeira relatou a admissão na última terça-feira de uma mulher grávida de seis meses, que havia sido retirada dos escombros. “Ela ficou gravemente ferida, iniciamos uma cesariana, mas nem a criança nem a mãe puderam ser salvas”, disse Maram.

A poucos metros de distância, Mohammed, de 25 anos, carregou em seus braços a filha de seus vizinhos, mortos sob os escombros de um edifício que desabou em Duma. “Que crime essa menina cometeu?”, repetia a voz alta, enquanto o destino de sua própria família permanece desconhecido. A força aérea da Rússia, aliada do regime de Bashar al-Assad, bombardeou Ghuta Oriental pela primeira vez em três meses.

O Kremlin negou ontem qualquer envolvimento nos bombardeios. “São acusações sem fundamento”, declarou o porta-voz Dmitri Peskov, enquanto a diplomacia norte-americana acusou a Rússia na terça-feira de ser responsável pelos ataques. (AFP)