O desafio de reerguer um país Com a renúncia de Pedro Pablo Kuczynski, cabe ao seu sucessor, Martín Vizcarra, a missão de superar as crises política e econônima do Peru

Publicação: 23/03/2018 03:00

A renúncia de Pedro Pablo Kuczynski deixa a Martín Vizcarra, seu sucessor na presidência do Peru, o duplo desafio de formar um governo de unidade para superar a instabilidade política e impulsionar a economia. Em um país polarizado no qual alguns pedem eleições antecipadas e outros exigem que conclua o mandato até julho de 2021, Vizcarra, um homem pragmático, terá que fazer malabarismos para lidar com um Congresso dominado pelo partido de Keiko Fujimori, a vencedora desta crise, que levou Kuczynski à renúncia na última quarta-feira.

A única fortaleza do até hoje embaixador no Canadá é não ter sido salpicado por escândalos de corrupção, nem tem filiação política. Isto pode permitir-lhe criar pontes, o que não deve ser difícil para este engenheiro civil, ligado ao setor da construção.

O primeiro desafio de Vizcarra será formar um gabinete “de ampla base, de unidade nacional”, no qual não devem participar os ministros que acompanharam Kuczynski, para não ser “percebido como um governo continuísta”, diz o analista político Mirko Lauer. “A chave é puxar o centro político, que abandonou Kuczynski na última hora”, disse Lauer, acrescentando que Vizcarra poderia apelar à sua condição de político provinciano para convocar personalidades de diferentes regiões do Peru.

No entanto, nem todos pensam da mesma forma. O ex-candidato presidencial Alfredo Barnechea, líder do partido Ação Popular (centro), exigiu que Vizcarra convoque eleições presidenciais e legislativas antecipadas porque “é um presidente de transição”. Mas “Vizcarra não pode convocar eleições” antecipadas, explica Fernando Tuesta, analista político e ex-chefe do serviço eleitoral do Peru. “Para isso, precisaria renunciar e ser o presidente do Congresso (na qualidade de novo presidente provisório) a convocá-las”, continua.

Outro desafio de Vizcarra é se entender bem com o Congresso para evitar os confrontos, como aconteceu com Kuczynski, ressalta Lauer. Neste sentido, analistas não descartam que incorpore pessoas próximas aos principais partidos, como a fujimorista Força Popular (principal força política do país) ou o partido social-democrata Aprista.   

As duas formações de esquerda no Congresso, a Frente Ampla e o Novo Peru, já anunciaram que não farão parte do governo de Vizcarra, a quem exigiram convocar eleições no curto prazo. “O regionalismo é um naipe curto, mas é uma alternativa”, continua Lauer. (AFP)