Em Washington, Macron critica o isolacionismo No Congresso norte-americano, presidente francês tocou em temas delicados da gestão de Trump

Publicação: 26/04/2018 03:00

Washington (AFP) - O presidente francês, Emmanuel Macron, lançou ontem um forte apelo aos parlamentares em prol do multilateralismo e da manutenção dos Estados Unidos no cenário internacional, em um discurso muito aplaudido no Congresso norte-americano. O chefe do Estado francês, em um discurso em inglês que durou 45 minutos, argumentou contra a tentação nacionalista. “Podemos escolher o isolacionismo, a retração e o nacionalismo. É uma opção. Pode ser um remédio tentador para nossos medos. Mas fechar a porta para o mundo não deterá a evolução do mundo”, declarou, após uma introdução aludindo à antiga amizade franco-americana, em consonância com outros dignitários franceses que receberam as honras do Capitólio desde o primeiro deles, o Marquês de Lafayette em 1824.

Sua entrada foi marcada por uma ovação de pé de três minutos por parte dos congressistas presentes. Frente ao Congresso controlado pelos republicanos, ele defendeu a utilidade das instituições internacionais fundadas desde a Segunda Guerra Mundial com o apoio dos Estados Unidos, apostando nas sensibilidades republicanas ao insistir na luta contra o terrorismo. E mais ainda nos democratas com passagens sobre a defesa da ciência e do clima - repetindo, para deleite desses últimos, que não há “planeta B”.

“Tenho certeza de que um dia os Estados Unidos voltarão ao acordo de Paris sobre o clima”, disse ele, fazendo os democratas pularem de alegria, alguns dos quais gritaram “Viva a França”. enquanto os republicanos permaneciam de braços cruzados, não sem um sorriso ante a ligeira impertinência de seu anfitrião.

Respeitando a tradição, as ovações e risos permearam o discurso, ainda que alguns congressistas tivessem que se esforçar para entender o sotaque do chefe de Estado, que se expressou inteiramente em inglês, com exceção da conclusão: “Vive la République, vive la France, vive notre amitié” (Viva a República, viva a França, viva nossa amizade).
 
“Irã nunca deverá ter arma nuclear”
 
Macron discorreu longamente sobre um novo e mais amplo acordo sobre o Irã e a questão nuclear, que ele esboçou no dia anterior com seu colega norte-americano, Donald Trump, mas que Moscou e Teerã já rejeitaram. “Quanto ao Irã, nosso objetivo é claro: o Irã nunca deverá ter uma arma nuclear. Nem agora, nem em cinco anos, nem em dez anos. Nunca”, ressaltou Emmanuel Macron, desta vez aplaudido por todos os presentes.

Sobre o comércio, ele reiterou ser a favor de um “comércio justo e equitativo”, mas rejeitou como “sem coerência” qualquer guerra comercial entre aliados, referindo-se aos impostos sobre o aço e o alumínio propostos por Trump contra a União Europeia. Como de Gaulle, Mitterrand ou Sarkozy antes dele, o presidente francês traçou o fio da “indestrutível” amizade franco-americana, chamando-a de “relação especial”, um termo geralmente reservado ao Reino Unido.

Nenhum outro país viu tantos dignitários recebidos no Congresso dos EUA. “Eu não esperava uma oposição tão direta ao presidente”, disse o democrata Adam Schiff. Ao final do discurso, muitos democratas esperaram para cumprimentar o dirigente.