24 MORTOS » Nicarágua revoga decreto que gerou graves protestos

Publicação: 23/04/2018 03:00

O presidente da Nicarágua, Daniel Ortega, anunciou ontem a revogação de uma reforma no sistema de pensões, que desencadeou os protestos violentos que deixaram 24 mortos, destruição e saques em quatro dias.

Em um encontro com empresários de zonas francas, Ortega disse que o Instituto Nicaraguense de Seguro Social (INSS) tomou uma decisão, “revogando a resolução anterior, de 16 de abril passado, que foi a que serviu como detonadora para que se iniciasse toda esta situação” de protestos.

Naquela data, o organismo de seguridade social reformou o sistema de pensões para aumentar as contribuições de trabalhadores e patrões a fim de dar estabilidade financeira ao sistema previdenciário, gerando o repúdio da população, que foi às ruas protestar.

O Centro Nicaraguense de Direitos Humanos (Cenidh) disse à AFP que confirmou com as famílias das vítimas a morte de 24 pessoas nos protestos, iniciados na quarta-feira.

Entre as vítimas estão estudantes que iniciaram o movimento, policiais e simpatizantes da governista Frente Sandinista - acusados de atacar os manifestantes - e o jornalista Miguel Ángel Gahona, que morreu no sábado, atingido por um tiro, quando transmitia pelo Facebook um confronto entre manifestantes e forças de ordem.

A AFP consultou a Polícia e o governo para corroborar o número de mortos, nas não houve resposta. A revogação da controversa reforma não convenceu a todos na Nicarágua, onde algumas pessoas consideraram que a medida foi tardia.

“Isso deveria ter feito ontem para que não acontecesse o que aconteceu. (Ortega) deve ter palavra, não brincar com o povo, tem gente que perdeu seu trabalho com os saques de supermercados”, reclamou Yelba Arbizú, pequena comerciante do bairro Marta Quezada de Manágua.

O papa Francisco se disse “muito preocupado” com a situação na Nicarágua. “Expresso minha proximidade com a oração por este amado país e me uno aos bispos para pedir que cesse toda violência”, disse o Sumo Pontífice, ontem, na Praça de São Pedro, no Vaticano.

Ortega anunciou que formaria uma mesa de diálogo, com a participação da Igreja Católica, para discutir as reformas que deem estabilidade ao sistema de pensões. (AFP)