Guerra política entre EUA e Venezuela Nicolás Maduro expulsa representantes norte-americanos em resposta a sanções de Donald Trump feitas à contestada reeleição do líder chavista no domingo

Publicação: 23/05/2018 03:00

Caracas - O presidente da Venezuela, Nicolás Maduro, anunciou ontem a expulsão do maior representante dos Estados Unidos em Caracas, após repudiar as sanções econômicas de Washington em represália por sua reeleição. “Declaro persona non grata e anuncio a saída, dentro de 48 horas, do encarregado de negócios dos EUA (Todd Robinson)”, disse Maduro, ao receber as credenciais como o vencedor da eleição de domingo, boicotadas e não reconhecidas pela oposição.

O presidente respondeu assim a um decreto assinado na segunda-feira por Donald Trump, que complica ainda mais o financiamento do país petroleiro, afundado em uma de suas piores crises econômicas. “Repudio todas as sanções pretendidas contra a República Bolivariana da Venezuela porque causam dano, geram sofrimento ao povo (...) Rechaço e repudio a conspiração permanente”, acrescentou.

Maduro também ordenou a expulsão do chefe da seção política, Brian Naranjo, número dois da embaixada e a quem identificou como o representante em Caracas da Agência Central de Inteligência (CIA). Imediatamente, os Estados Unidos ameaçaram “tomar as medidas recíprocas pertinentes”, segundo declarações feitas à AFP por um funcionário do Departamento de Estado.

O governante socialista, de 55 anos, disse ter “provas” da “conspiração” dos Estados Unidos e de sua embaixada nos campos militar, econômico e político. Ambos os países carecem de embaixadores desde 2010.

Maduro foi proclamado oficialmente reeleito para governar até 2025, com um país em ruína e cada vez mais isolado, após a rejeição de vários governos que apoiaram o boicote da opositora Mesa da Unidade Democrática (MUD).

Com uma abstenção eleitoral recorde de 54%, Maduro foi reeleito com 68% dos votos contra 21% do ex-chavista Henri Falcón, que participou se afastando da linha da MUD e acusou o governo de “compra de votos” e “chantagem” com os programas sociais. “Ganhei uma boa disputa. Ninguém me deu essa vitória (...) que conquistei com a bravura e coragem com que enfrento o império”, expressou na cerimônia ante a cúpula militar, o gabinete e membros da governista Assembleia Constituinte.

Os Estados Unidos descreveram as eleições como uma “farsa” e anunciaram imediatamente sanções, enquanto a União Europeia denunciou “irregularidades” na eleição e analisa medidas. “Ao governo de Donald Trump, ao governo da Ku Klux Klan, eu digo: nem com sanções nem com ameaças nem conspirações vocês impediram as eleições”, disse Maduro, acusando Falcón de ceder à pressão de Washington.

O Grupo Lima, composto por Canadá e 13 países latino-americanos, chamou para consultas seus embaixadores em Caracas e concordou em baixar o nível das relações e bloquear fundos internacionais à Venezuela. “O que está vindo é um maior isolamento diplomático e comercial, e mais dificuldades de conceder crédito e financiamento”, previu o analista Diego MoyaOcampos do IHS Markit, com sede em Londres.