PARLAMENTO EUROPEU » Pedido de perdão de Zuckerberg não convence

Publicação: 23/05/2018 03:00

Bruxelas (AFP) - O fundador do Facebook, Mark Zuckerberg, reiterou seu perdão no Parlamento Europeu, em Bruxelas, ontem, bem como fez no Congresso norte-americano, pelas falhas cometidas pela rede social na proteção de dados de seus usuários, mas não conseguiu convencer os europeus. "Ficou evidente, nos últimos dois anos, que não fizemos o suficiente para impedir que as ferramentas que criamos também fossem usadas %u200B%u200Bpara fins prejudiciais", declarou Zuckerberg diante dos líderes dos grupos parlamentares e de seu presidente, Antonio Tajani, entre outros.

O empresário norte-americano se referiu assim tanto ao mau uso dos dados pessoais por parte de empresas, quanto à desinformação ou a ingerência estrangeiras em processos eleitorais. "Foi um erro, desculpem-me", reconheceu Zuckerberg, no início da sessão de cerca de 90 minutos. Seu novo "mea culpa" pelo escândalo da Cambridge Analytica, que provocou uma onda de inquietação pelo uso de dados pessoais de milhões de usuários do Facebook, não convenceu os presentes, como Manfred Weber (PPE, de direita), para quem ele  não deu garantias de evitar que isso se repita.

Para o líder do principal grupo parlamentar, Zuckerberg "não prometeu nada mais do que já prevê a legislação europeia de proteção de dados". "Isso não é suficiente", acrescentou.

Segundo números fornecidos pelo Facebook à Comissão Europeia, os dados de "até 2,7 milhões" de europeus podem ter sido transmitidos "de maneira inapropriada" à Cambridge Analytica, envolvida na campanha presidencial de Donald Trump.

Gênio fracassado?

A empresa britânica utilizou dados pessoais de milhões de usuários do Facebook na campanha eleitoral dos Estados Unidos, o que obrigou o magnata de 34 anos a prestar contas ante ao Parlamento Europeu. "Como quer ser lembrado? Como um dos três gigantes da internet, ao lado de Bill Clinton e Steve Jobs? Ou como um gênio fracassado criador de um monstro digital que destrói nossas democracias?", indagou o influente eurodeputado liberal, Guy Verhofstadt.

Lembrando que a UE terá eleições em um ano, Zuckerberg destacou que uma de suas "prioridades" é evitar influências, como as russas. Por isso, espera lançar antes do verão boreal novas "ferramentas de transparência".

Sob pressão dos influentes eurodeputados, Zuckerberg aceitou que sua audiência fosse transmitida ao vivo na Internet. Os participantes demonstraram sua frustração pelo formato, que deixou algumas perguntas sem resposta. "Ele se comprometeu a responder por escrito às perguntas" que ficaram no ar, defendeu em coletiva de imprensa posterior Tajani, que comemorou o "êxito" da reunião.

Max Schrems, ativista baseado em Viena e que levou aos tribunais europeus casos de defesa da privacidade online, considerou que "o Parlamento Europeu [fez] o ridículo" com as "respostas sem sentido". "Promessas vagas", segundo os eurodeputados ecologistas Ska Keller e Philippe Lamberts.