Oportunidades: adolescentes, peregrinos e empresários

Publicação: 25/08/2021 03:00

Não havia nenhuma escola no sentido moderno da palavra no antigo Tibet. A taxa de analfabetismo ultrapassava 95%, para não falar da completa falta de compreensão da ciência e tecnologia modernas.

Fundada em 1956 com apenas 20 a 30 alunos, a Escola Secundária de Lhasa, no centro da cidade, é a primeira escola secundária moderna e normalizada na história do Tibet.

Atualmente, a escola tem cerca de 3 mil alunos, com tibetanos representando cerca de 62%, indicou Tang Yong, o diretor da escola.

De 1951 a 2020, o governo central investiu 224 bilhões de yuans (US$ 35 bilhões) na educação do Tibet. Atualmente, a região já tem um sistema educacional moderno estabelecido, incluindo pré-escola, escolas primárias e secundárias, escolas profissionais e técnicas, instituições de ensino superior e instituições de educação especial.

De acordo com Gong Xiaotang, secretário do Partido da Escola Profissional Secundária Nº2 de Lhasa, o Tibet assumiu a liderança na China ao oferecer aos alunos 15 anos de ensino obrigatório com financiamento público.

Os alunos da escola profissional podem escolher entre uma grande variedade de cursos, incluindo culinária, vestuário tradicional tibetano e produção de medicamentos, pintura thangka e outras disciplinas. A escola também ensina administração de hotéis, contabilidade, design de propaganda e operação de drones.

“Fiquei impressionado com as crianças. Elas estavam aprendendo uma habilidade que lhes renderia dinheiro e parecem entender isso desde muito jovens”, disse Blair, economista americano. “E fiquei incrivelmente impressionado com o quanto essas crianças sabiam, como eram trabalhadoras e como estão dedicadas a construir os seus próprios futuros.”

Ele também ficou admirado com um centro de fabricação em Lunang, na cidade de Nyingchi, onde os alunos do primário são ensinados a usar computadores e impressoras 3D.

“Eles estão criando um espírito de dinamismo nas crianças pequenas, e isso vai compensar”, indicou Blair, observando que os jovens crescerão sonhando em ser inovadores, construir negócios e aproveitar oportunidades econômicas.

A Rua Barkhor, que circunda o Templo Jokhang, patrimônio mundial da Unesco e parte do conjunto histórico do Palácio Potala, é o circuito de peregrinos mais famoso de Lhasa e está sempre repleto de peregrinos. Os fiéis completam o circuito no sentido horário, girando suas rodas de oração na mesma direção. Existem mais de 1,7 mil locais para atividades budistas tibetanas com 46 mil monges e freiras no Tibet, enquanto as atividades religiosas tradicionais são realizadas regularmente de acordo com a lei.

Todos os anos, grandes somas de dinheiro são gastas pelo governo na renovação e manutenção do Palácio Potala para garantir que os peregrinos tenham um ambiente seguro onde possam praticar sua religião, de acordo com Jorden, diretor do escritório administrativo do Palácio Potala. “Vimos que muitas pessoas ainda mantêm seus ideais religiosos e, ao mesmo tempo, não querem ser pobres por causa disso”, afirmou Blair. Este sentimento obteve o consenso de Rein, que descobriu que as crenças religiosas dos tibetanos não são nenhum obstáculo para a prosperidade econômica. “Eu não acho que haja uma desconexão ou conflito entre os dois”.

Em 2020, a renda disponível per capita das pessoas no Tibet foi o dobro do valor de 2010. A renda média disponível per capita dos residentes rurais teve um crescimento de dois dígitos nos últimos 18 anos, enquanto a dos residentes urbanos em 2020 atingiu 41.156 yuans, um aumento anual de 10%.

Rein acredita que a parte mais impressionante da viagem foi ver a ascensão da classe média no Tibet, já que um número crescente de habitantes locais saíram da pobreza. “Quando você tem uma classe média vibrante, você tem uma sociedade vibrante, sustentável e bem-sucedida”, disse ele.

Tendo testemunhado a implementação da política de Beijing apoiando pequenas empresas e incentivando o empreendedorismo em massa no Tibet, Rein e Blair estão otimistas sobre o desenvolvimento futuro da região, bem como da economia chinesa.

Entretanto, a descoberta de um modelo de negócios viável continua sendo o maior desafio para o Tibet, de modo que a região possa, em última instância, desistir do apoio do resto do país, observou Blair.