Viagem no ventre de um sonho

Fernando Araújo
Advogado
fernandojparaujo@uol.com.br.

Publicação: 24/07/2014 03:00

Fazer uma longa viagem de marcha à ré no tempo até encontrar e viver no ambiente de Belle Époque (1878/1914). Este é o meu sonho, minha utopia. O que nela me seduz não é a vitalidade científica e tecnológica (de Pasteur, Curie, Peugeot, Renault, Michelin, Panhard). Hoje até temos mais. A atmosfera artística e intelectual é que fascina. A ausência de guerras. Uma vida agradável.

Os impressionistas nas ruas pintando e retratando o cotidiano parisiense. A convivência nos cafés e cabarés com Bebussy, Ravel, Gabriel Fauré. Eles ali criavam. Revolucionaram a música a partir desse ambiente. A casa de Émile Zola vira ponto de encontro dos amantes da literatura. Aí tem início o naturalismo e o simbolismo. Claro que o brilho também surge na escultura de Rodin, na arquitetura, no teatro, no cinema com os irmãos Lumière. Havia um humanismo edificante. Em 1914 vem a guerra. Um conflito sem ética. Perde-se o respeito à lei como parâmetro civilizatório. A técnica esmaga o humano. Essa nostalgia acomete a todos nós. Não foi diferente com Thomas Morus com o seu reino imaginário. Bandeira buscou sua Pasárgada, “um país de delícias”, como ele mesmo dizia. Viajo, pois, no ventre de um sonho.