A nudez na obra de arte

Roque de Brito Alves
Membro da Academia Pernambucana de Letras
dudabritto@hotmail.om

Publicação: 17/09/2014 03:00

1 – o nu é o nu contra o belo pois uma obra de arte é considerada como tal quando tem uma mensagem estética, quando a sua finalidade é o belo e compreendemos o belo como “o que agrada ao espírito” (“Le Beau Qui Plait à L’Esprit”, “The Beautiful That Pleases The Mind”) e em consequência implica que não haverá o culto da obscenidade, contrário a principal finalidade das belas artes que é o belo. o belo agrada não somente aos nossos sentidos porém agrada primacialmente ao nosso espírito, a nossa mente. E o poeta inglês Keats, no século 19 cantava “a beleza é uma alegria eterna”.

Na tentativa para solucionar a polêmica concordamos com o movimento estético “a arte pela arte” (“L’art pour L’Art”), quando é fundamental que a arte deve ser absolutamente livre de qualquer determinismo moral, ideológico ou social, sem nenhuma submissão a respeito pois a finalidade do belo, em termos estéticos, é fundamental na matéria. A arte em qualquer uma de suas manifestações pode ser influenciada porém não submetida ou escravizada a qualquer coisa fora da estética.

2 – Em outra ideia fundamental sustentamos que a obra científica cuja finalidade é a educação ou a saúde nunca pode ser apreciada como obscena porque a sua finalidade é sempre a verdade e não a obscenidade. Por exemplo, não é obscena a nudez de um modelo que posa em uma escola de belas artes ou o genial desenho anatômico de Leonardo da Vinci denominado “O homem vitruviano”. Afinal, também não é obscena a foto dos seios nus de uma mulher em uma publicidade de uma campanha contra o câncer de seio.

3 – Por outra parte, deve ser distinguido o “erotismo” da “pornografia” porque o erotismo é natural, está de acordo com a natureza humana, pode ser aceito em uma obra de arte (“arte erótica”) porém a pornografia deve ser totalmente rejeitada sob qualquer aspecto, porque não tem valor estético e assim “arte erótica” não é igual a “obra pornográfica”. Entretanto, muitas vezes existem dificuldades a respeito de algumas obras literárias, de cinema ou teatrais, etc., tornando muito sutil tal distinção, reconhecemos.

4 – É inegável que a matéria é muito polêmica por sua própria natureza, porém entendemos que o movimento artístico que compreende a arte somente sob estritos termos estéticos e cujo fim é o belo pode solucionar a questão, é a sua chave. Essencialmente, sustentamos não haver beleza na obscenidade, belo e obsceno são incompatíveis por si mesmos, são ideias ou obras que se excluem mutuamente.