José Carlos L. Poroca
Executivo do segmento shopping centers
Publicação: 18/01/2017 03:00
Walfrido (***), que andava desaparecido, reapareceu nos primeiros dias do ano, cabisbaixo, dizendo coisas sem pé nem cabeça e duplicando palavras a cada frase. Não é novidade para mim. Todas as vezes que surge um fato marcante, esse tipo de comportamento vem à tona. Poderia arriscar, dizendo que foi a mudança do calendário ou a vitória de Trump ou até um desencanto amoroso. Prefiro não arriscar, limitando-me a ouvir e falar sobre o tempo, sobre um fato irrelevante, coisas assim. Sei que, em questão de poucos minutos, ele vai ‘entrar’ com algum tema de seu interesse.
Não deu outra: passou a comentar sobre o livro que acabara de ler, Vida e Destino, do russo Vassili Grossman, taxando-o de obra prima do Século XX, que foi confiscado pela KGB durante vinte anos. O autor, segundo Walfrido, tenta misturar ficção e a crua realidade da época – de forma proposital -, mostrando o que representavam as forças nazistas, de um lado, e as soviéticas de Stalin, do outro. Sem filtros ou botoxes, o autor conseguiu produzir uma Grandiosa obra, com g maiúsculo.
Walfrido não para de falar e inicia discurso comparativo entre os tempos atuais e os dos personagens do livro de Vassili Grossman, ao dizer - há 60 anos -, das necessidades básicas dos mortais (“comida, comida, comida...”): “... cascas de batatas, cachorros, rãs, caracóis, folhas podres de repolho, beterraba mofada, carne macilenta de cavalo, carne de gato, carne de corvo e de gralha, grão queimado e úmido, couro de cinto, cano de bota (****), - tudo isso é comida”. Ora – completa Walfrido – com 12 milhões de sem-emprego no país, voltamos ao passado e corremos o risco de incluir no rol de alimentos capim, baratas, gafanhotos, ratos e morcegos.
O homem é um construtor de paradoxos: consegue descobrir, a identidade de uma pessoa, depois de 300 anos, pelas suas fezes; descobre um órgão novo (o mesentério) no corpo humano, que existe há milhares de anos, mas não consegue descobrir a fórmula para que o chômeur (desempregado) tenha direito ao trabalho para colocar comida na mesa. Quando a tecla de retrocesso é acionada, alguns dispositivos (dignidade, honra, decência etc.) são processados automaticamente e indevidamente, iniciando a formação do ‘opa!’ e do ‘salve-se quem puder!’.
(**) Desemprego
(***) Penífero tagarela que aparece de vez em quando na minha janela, que fala em português e canta em vários idiomas
(****) Vide Em Busca do Ouro, de Charles Chaplin
Não deu outra: passou a comentar sobre o livro que acabara de ler, Vida e Destino, do russo Vassili Grossman, taxando-o de obra prima do Século XX, que foi confiscado pela KGB durante vinte anos. O autor, segundo Walfrido, tenta misturar ficção e a crua realidade da época – de forma proposital -, mostrando o que representavam as forças nazistas, de um lado, e as soviéticas de Stalin, do outro. Sem filtros ou botoxes, o autor conseguiu produzir uma Grandiosa obra, com g maiúsculo.
Walfrido não para de falar e inicia discurso comparativo entre os tempos atuais e os dos personagens do livro de Vassili Grossman, ao dizer - há 60 anos -, das necessidades básicas dos mortais (“comida, comida, comida...”): “... cascas de batatas, cachorros, rãs, caracóis, folhas podres de repolho, beterraba mofada, carne macilenta de cavalo, carne de gato, carne de corvo e de gralha, grão queimado e úmido, couro de cinto, cano de bota (****), - tudo isso é comida”. Ora – completa Walfrido – com 12 milhões de sem-emprego no país, voltamos ao passado e corremos o risco de incluir no rol de alimentos capim, baratas, gafanhotos, ratos e morcegos.
O homem é um construtor de paradoxos: consegue descobrir, a identidade de uma pessoa, depois de 300 anos, pelas suas fezes; descobre um órgão novo (o mesentério) no corpo humano, que existe há milhares de anos, mas não consegue descobrir a fórmula para que o chômeur (desempregado) tenha direito ao trabalho para colocar comida na mesa. Quando a tecla de retrocesso é acionada, alguns dispositivos (dignidade, honra, decência etc.) são processados automaticamente e indevidamente, iniciando a formação do ‘opa!’ e do ‘salve-se quem puder!’.
(**) Desemprego
(***) Penífero tagarela que aparece de vez em quando na minha janela, que fala em português e canta em vários idiomas
(****) Vide Em Busca do Ouro, de Charles Chaplin