A ação do governo e a solidariedade do povo na tragédia

Luiz Ernesto Mellet
Gestor governamental da Secretaria de Planejamento de Pernambuco

Publicação: 15/06/2017 03:00

É difícil extrair algo de bom em meio a uma catástrofe dessas como a que se viu em maio, com as águas engolindo cidades e a lama arrastando o pouco que havia de dentro da casa de muitos ribeirinhos. Mas a mobilização de nossa gente – já ressabiada de outras cheias – em socorrer os conterrâneos e a forma ligeira com que o governo encarou a situação, foram tocantes e determinantes para reduzir a extensão da tragédia.

Desta vez, as águas subiram rapidamente, de modo mais concentrado e intenso que em 2010. Bastaram dois dias para chover o equivalente a 140 mm, tempo e volume suficientes para abastecer a Serro Azul. A barragem passou de 13 milhões m3 para 89 milhões m3. E mais importante: conseguiu represar metade do aguaceiro.

Em pouco tempo, o governador Paulo Câmara instalou um gabinete de crise no Palácio. Convocou o secretariado e liberou R$ 24 milhões para a assistência de 46 mil desabrigados em 27 cidades. Nos dias que se seguiram às enchentes, comandou de frente as operações de ajuda humanitária nos municípios em estado de emergência e antecipou R$ 8,6 milhões do Programa Chapéu de Palha, beneficiando mais de 20 mil famílias.

Nos instantes iniciais, a prioridade foi salvar e proteger vidas. O exército ergueu um hospital de campanha em Rio Formoso. A unidade de saúde da cidade tinha sido destruída pela enxurrada que, também, fez em pedaços a casa de pau a pique do jovem casal Alisson e Andreza. As águas arrastaram o berço e as roupinhas da filha que acabou nascendo numa maca sob o toldo do hospital.

O governo distribuiu 150 mil m2 de lonas plásticas para contenção de barreiras e entregou para a população atingida 177 toneladas de  alimentos, outras 105 de roupas, 204 mil litros de água, quase dez mil colchões e 10,8 mil pães por dia. Isso sem contar a montanha de fardos com gêneros de primeira necessidade doados pelo povo cuja solidariedade emocionou o país.

Em meio à devastação que provocam, desastres naturais costumam render episódios marcantes. A silhueta frágil da criança, ajoelhada na jangada, resume o drama vivido pelos flagelados. Mas a cena se reveste de significado maior pelo conteúdo da mochila surrada que ela comprimia contra o peito enquanto se equilibrava na embarcação vacilante. Alertada pela avó para levar o que tinha de mais valioso, Rivânia, 8 anos, escolheu os livros.

Se algo bom houve nesse infortúnio foi a condescendência coletiva dos pernambucanos. O que nossa gente fez foi de coração. Isso tem valor incalculável. Como o valor dado aos livros pela menininha de Várzea do Una, flagrada na tempestade com o vestido de alcinhas encharcado e os pés descalços. Porque não teve tempo de calçar as sandálias.