Uma semana de alento

Alexandre Rands
Economista, PhD pela Universidade de Illinois, presidente da Datamétrica e do Diario de Pernambuco

Publicação: 19/08/2017 03:00

A semana foi de boas notícias na área econômica no que se refere ao Brasil como um todo. As pesquisas mensais do comércio e dos serviços referentes a junho mostraram crescimento no volume desses setores em relação a maio, quando se ajusta para variações sazonais. Os serviços tiveram expansão de 1,3%, enquanto o comércio de varejo teve elevação de 1,2% na mesma comparação. A taxa de desemprego para o segundo trimestre também teve queda pequena de 13,7% no primeiro trimestre para 13,0%, movimento que não tem ocorrido sazonalmente na curta série de desemprego trimestral que temos. O IBC-Br, estatística do Banco Central que tenta simular a variação do PIB, também trouxe boas notícias, tendo crescido no segundo trimestre 0,25% em relação ao primeiro trimestre. Além disso, o governo resolveu finalmente mudar as metas fiscais de 2017 e 2018 para níveis ainda restritivos, porém mais realistas. Tudo isso gerou um sentimento positivo na economia, que se refletiu no Ibovespa. A ideia de que a economia finalmente começa processo de recuperação termina a semana com mais credibilidade.

Em Pernambuco os números não foram tão positivos. A taxa de desemprego subiu de 17,1% para 18,8% e a massa total de rendimento efetivamente recebida pelos trabalhadores caiu 8,14% no segundo trimestre, quando se compara ao primeiro (parte da queda explica-se pelo comportamento sazonal, mas ainda assim a queda foi maior do que esperada por esse componente). O volume de vendas do comércio varejista cresceu apenas 0,9% e o de serviços apenas 0,7%, quando se compara junho com maio, após ajuste sazonal. Ou seja, os dados apontam para uma recuperação mais lenta em Pernambuco do que no Brasil como um todo, apesar de ainda sinalizarem para um provável início de retomada da economia também por aqui.

Vale salientar que esses números são para junho e por tal ainda não trazem todas as consequências das delações dos controladores e executivos da JBS, já que essas levaram algum tempo para deslanchar todos os seus efeitos na economia real. Desde então, a economia deu uma nova pausa, com os agentes esperando para ver o que vai acontecer. No entanto, as notícias positivas da semana, junto com as mudanças nas metas fiscais, devem contribuir com a retomada da recuperação em ritmo um pouco mais elevado. Vale salientar que o Ibovespa esteve em crescimento ao longo de todo o mês de julho, mostrando que a confiança na recuperação vem crescendo ao longo deste mês.

Apesar dessa recuperação, o momento ainda é difícil para as empresas. Apesar de algum alívio recente no crédito para famílias, com a queda nas taxas de juros, o endividamento das empresas está muito elevado e não houve reação do crédito para elas em junho. Ele continua muito baixo porque os bancos permanecem limitando o acesso. Isso deixa-as muito sensíveis. O Refis pode vir a ser um alívio, mas a ânsia arrecadadora do Ministério da Fazenda tem jogado muitas incertezas sobre os seus desenlaces e com isso retardado as definições das empresas e dos bancos na contemplação do potencial creditício das primeiras. Daí a necessidade de o governo resolver logo e aceitar um Refis que não tenha como objetivo arrecadar, mas sim permitir que as empresas sobrevivam e possa retomar suas atividades com mais vigor. Em Pernambuco os atrasos nos pagamentos dos governos e das prefeituras ainda têm sido um grande complicador para as empresas e que gera uma escassez de recursos em cascata na economia. Quando esse fenômeno é somado às reduções dos gastos dos governos federal e estadual, assim como das prefeituras, isso tem gerado as dificuldades mais exacerbada por que passam as empresas locais e a recuperação mais lenta de nossa economia.  Ou seja, a situação parece começar a querer melhorar, mas falta os governos fazerem as partes deles.