EDITORIAL » 2018, o ano da eleição pulverizada?

Publicação: 21/09/2017 03:00

O PMDB possivelmente deve ter um candidato nas eleições presidenciais de 2018, afirmou ontem o presidente Michel Temer. Indagado sobre como iria posicionar-se em relação ao tema, ele ressalvou que durante os 15 anos em que presidiu o partido muitas vezes aceitou concorrer à reeleição só para evitar que houvesse uma divisão entre os peemedebistas. Temer já afirmou que não pretende disputar as eleições presidenciais do próximo ano, mas política é o território em que a expressão “o futuro a Deus pertence” mais faz sentido.

O aspecto que nos interessa aí, porém, é que o PMDB deve ter o seu candidato, o que é até lógico — como esperar que o partido que tem um dos seus filiados na Presidência da República não tenha concorrente ao cargo?  Além do PMDB, diversos outros partidos também devem construir seus próprios palanques. Diferentemente do que vimos nas últimas décadas, quando a polarização PT-PSDB galvanizou a corrida eleitoral (levando à montagem de grandes alianças), desta vez o cenário é de uma eleição pulverizada em vários palanques.

Nos aproximamos do mesmo quadro de 1989, quando tivemos um número espantoso de candidatos: 22. Todas as forças políticas de expressão (e outras de menor força) tiveram seu próprio palanque. Leonel Brizola concorreu pelo PDT; Mário Covas pelo PSDB; Ronaldo Caiado pelo PSD; Paulo Maluf pelo PDS; Aureliano Chaves pelo PFL; Ulysses Guimarães pelo PMDB; Lula pelo PT; Fernando Collor pelo PRN; Enéas pelo Prona; Roberto Freire pelo PCB e mais — imaginem — 12 outros postulantes. Lula e Collor foram para o segundo turno e o final da história todos conhecem.

A situação atual permite estabelecer alguns paralelos que justificam a previsão de muitos candidatos em 2018. Em 1989 era a primeira eleição presidencial pós-ditadura e todos queriam marcar presença. Agora, será a primeira eleição após o afastamento do PT da Presidência, com o país entrando numa fase em que as forças políticas se sentem animadas em tentar “carreira solo” e quando existe apenas um candidato eleitoralmente forte,  o Lula — cuja candidatura está pendente de decisões judiciais sobre processos nos quais ele é réu. Sem o petista na disputa, cria-se o sentimento de que todos, mais ou menos, têm chances de vitória — poderoso estímulo para que os partidos lancem-se com seus próprios nomes, deixando as alianças para o segundo turno.

É do direito de cada legenda apresentar aos brasileiros o nome do candidato que julga apto a comandar os destinos do país. De outro lado, uma eleição pulverizada é indicativo também da divisão política no país. Sabemos que nenhum partido sozinho governa o país; a rigor, até uma aliança, se pequena, terá problemas de governabilidade. A expectativa sobre isso é que em um segundo turno se refaça o fluxo das composições. O problema é que, numa eleição pulverizada, consequentemente numa cena política dividida, há riscos de crescimento de — vamos chamar assim — candidaturas aventureiras, destinatárias de sentimentos de raiva e frustração. O Brasil evoluiu muito, desde a redemocratização de 1985. Os escândalos de corrupção, que tanta indignação provoca em todos nós, não significa que não possamos evoluir ainda mais. Podemos fazer isso estancando as torneiras da corrupção, revalorizando a política e trabalhando por um Brasil melhor do que o que temos hoje.