EDITORIAL » Basta de violência

Publicação: 11/01/2018 03:00

A legislação penal, de tempos em tempos, se torna mais rigorosa, porém incapaz de inibir a violência contra as mulheres. Em Brasília, a semana começou com cenas de horrores. Uma psicóloga, 54 anos, reagiu à tentativa de estupro e levou um tiro no peito à queima roupa. O crime ocorreu na Superquadra 408 Sul, a menos de 10km do Palácio do Buriti, sede do governo local. Ela sobreviveu e está internada. Menos sorte tiveram três mulheres, vítimas de feminicídio. A proximidade com os poderes da República não blinda o universo feminino da covardia masculina, para a qual não há limites.

O machismo, uma cultura estúpida, que se perpetua secularmente, não arrefece no país. A total falta de educação, de sensibilidade e de humanidade de boa parte dos homens, revela o quanto são incapazes de respeitar uma mulher e qualquer outro ser humano. Esse comportamento deplorável mostra o quanto a sociedade está atrasada e como o poder público é incapaz de garantir a integridade das pessoas — mulheres, homens, idosos e crianças.

A cada duas horas, uma mulher foi assassinada em 2016, totalizando 4.657 casos, entre os quais, 533 foram classificados como feminicídio, com base na Lei nº 13.104, de 9 de março de 2015, segundo o 11º Anuário do Fórum Brasileiro de Segurança Pública.

A cada 11 minutos, uma mulher é estuprada no Brasil. Em 2016, foram 49.497 ocorrências — 136,6 casos por dia —, um crescimento de 3,5% em relação ao ano anterior. Estudiosos suspeitam que o número representa apenas 10% do total de casos ocorridos. Por vergonha ou para encobrir o crime praticado por um parente próximo, muitas mulheres não registram ocorrência.

Mas não é só isso: elas temem ser expostas a situações constrangedoras pela autoridade policial, que, não raro, as culpam de provocar o algoz por usar um decote mais ousado, uma saia mais curta ou por estar em altas horas. Inversão total de valores, resultado do atraso de uma sociedade preconceituosa.

Os casos de assédio também graves e recorrentes, sobretudo, no transporte público e nos locais de trabalho. A mulher é considerada objeto do sexo oposto. Além do machismo, o patriarcalismo respalda essa compreensão deturpada, que banaliza e deprecia a mulher e toda a contribuição que ela dá ao desenvolvimento do país. No mercado de trabalho, a mulher é violentada quando tem remuneração inferior à do homem, mesmo exercendo igual atividade. Assim, a dívida social do país com o universo feminino é crescente.

Não faltam opções e bons exemplos no país, entre eles, as ações de segurança pública do Piauí, que têm reprimido, com êxito, a violência contra a mulher, numa aliança com o Judiciário. A mudança e a construção da equidade de gênero, passa pelo ambiente doméstico, pela escola e pelas políticas públicas. Sem educação, mulheres e homens seguirão patinando no atraso e consolidando relações de agressões mútuas, nas quais todos perdem.