Múcio Aguiar* e Padre Marcelo Arruda* *
* Jornalista, com doutoramento em arqueologia pela Universidade de Coimbra
** Pároco da Igreja Santuário Mãe dos Homens - João Pessoa/Paraíba
Publicação: 02/12/2021 03:00
No próximo dia 6 de dezembro o memorialista Edson Nery da Fonseca completaria seu centenário de vida, contudo, ele ainda vive na memória de seus amigos e em suas obras. Biblioteconomista, Edson Nery foi fundador do curso de biblioteconomia no Brasil e um dos fundadores da Universidade de Brasília, com o sociólogo Darcy Ribeiro. Contudo, sua obra é principalmente vinculada aos pensamentos e vida do sociólogo Gilberto Freyre, de quem foi amigo e confidente.
A espiritualidade beneditina foi base em sua vida, e foi, no Mosteiro de São Bento de Olinda, que o conhecemos. Ambos ingressos à vida religiosa e que no refeitório do mosteiro tivemos contato com aquele senhor, de cabelos brancos, olhos azuis e estirpe inglesa – sua presença física, sua voz mansa e sua sabedoria encantava a todos, e com ele seguimos boa parte de nossa formação, construindo o convívio fraterno, tendo nele uma rica fonte de saber.
O professor Edson representa um patrimônio imaterial. Tornou-se um pensamento. Privar de sua amizade e convivência foi uma experiência profunda e rica para nós. Os momentos únicos de diálogos e palestras, unidos pela mística de suas divagações existenciais e religiosas. Era uma alma em caminho. Temos a casa na ladeira de São Bento, número 90, como referência de um lugar de cultura e transmissão de saber. O saber que se torna sabor com os livros e uma vasta nomenclatura de ideias e perfis.
Tudo em Edson Nery da Fonseca exalava sapiência. Forma e cores da geometria das estéticas. Conceituação do espaço tempo em uma métrica repleta de saudades e recordações. Fazíamos festa em cada visita ou pedaços de tardes azuis, do mar translucido de Olinda que emoldurava palavras em partes sonoras de muitas formas de rir e sonhar.
Nas palavras de Aristófanes em As Nuvens, “os velhos são crianças duas vezes”, é o retorno ao estado da criança ainda. Pequena idade 100 anos! Edson não é o jovem Fidipides a jogar provérbios ao pai. É o ancião que o tempo conteve. É o que diz Catão: se és sábio, não rias da velhice: em cada velho há um sentimento de criança (Dísticos de Catão 4,18).
O irmão oblato Plácido (Edson Nery) vivia profundamente a máxima de Quintiliano: Pectus est enim quod disertos facit – na verdade é o coração que torna eloquente. Era um orador que tinha o sentimento do que falava. Transpirava o conteúdo. Ofertava essência de intensidade. Brilhava os olhos quando narrava histórias e memórias. Edson Nery da Fonseca, 100 anos! Não o velho Sebastião de chapéu na mão. Ou indo danado para Catende com vontade de chegar. Ascenso Ferreira no trem das Alagoas. Ou quem sabe o alemão que chamou a morte de doce, e disse vem, doce morte. Gilberto Freyre na amizade de uma vida toda. Ou quem sabe Tocata e Fuga em Ré menor. Bach na ladeira do mosteiro em gregoriano.
Pernambuco. Recife. Boa Vista. Lugares físicos e de olhares amor. O livro faz 100 anos. O livro finito da matéria que fenece. Salve este dia memorável. Muitos vivas para Edson Nery da Fonseca, amigo dos livros, dos gatos e do silêncio.
A espiritualidade beneditina foi base em sua vida, e foi, no Mosteiro de São Bento de Olinda, que o conhecemos. Ambos ingressos à vida religiosa e que no refeitório do mosteiro tivemos contato com aquele senhor, de cabelos brancos, olhos azuis e estirpe inglesa – sua presença física, sua voz mansa e sua sabedoria encantava a todos, e com ele seguimos boa parte de nossa formação, construindo o convívio fraterno, tendo nele uma rica fonte de saber.
O professor Edson representa um patrimônio imaterial. Tornou-se um pensamento. Privar de sua amizade e convivência foi uma experiência profunda e rica para nós. Os momentos únicos de diálogos e palestras, unidos pela mística de suas divagações existenciais e religiosas. Era uma alma em caminho. Temos a casa na ladeira de São Bento, número 90, como referência de um lugar de cultura e transmissão de saber. O saber que se torna sabor com os livros e uma vasta nomenclatura de ideias e perfis.
Tudo em Edson Nery da Fonseca exalava sapiência. Forma e cores da geometria das estéticas. Conceituação do espaço tempo em uma métrica repleta de saudades e recordações. Fazíamos festa em cada visita ou pedaços de tardes azuis, do mar translucido de Olinda que emoldurava palavras em partes sonoras de muitas formas de rir e sonhar.
Nas palavras de Aristófanes em As Nuvens, “os velhos são crianças duas vezes”, é o retorno ao estado da criança ainda. Pequena idade 100 anos! Edson não é o jovem Fidipides a jogar provérbios ao pai. É o ancião que o tempo conteve. É o que diz Catão: se és sábio, não rias da velhice: em cada velho há um sentimento de criança (Dísticos de Catão 4,18).
O irmão oblato Plácido (Edson Nery) vivia profundamente a máxima de Quintiliano: Pectus est enim quod disertos facit – na verdade é o coração que torna eloquente. Era um orador que tinha o sentimento do que falava. Transpirava o conteúdo. Ofertava essência de intensidade. Brilhava os olhos quando narrava histórias e memórias. Edson Nery da Fonseca, 100 anos! Não o velho Sebastião de chapéu na mão. Ou indo danado para Catende com vontade de chegar. Ascenso Ferreira no trem das Alagoas. Ou quem sabe o alemão que chamou a morte de doce, e disse vem, doce morte. Gilberto Freyre na amizade de uma vida toda. Ou quem sabe Tocata e Fuga em Ré menor. Bach na ladeira do mosteiro em gregoriano.
Pernambuco. Recife. Boa Vista. Lugares físicos e de olhares amor. O livro faz 100 anos. O livro finito da matéria que fenece. Salve este dia memorável. Muitos vivas para Edson Nery da Fonseca, amigo dos livros, dos gatos e do silêncio.