Agradecer não é vaidade

Raimundo Carrero
Membro da Academia Pernambucana de Letras

Publicação: 09/02/2023 03:00

Sim, sei que pesa sobre meus ombros a acusação de ser muito, muito vaidoso, mas não é vaidade, acredito, criar e defender uma obra literária durante toda a vida, na crença da investigação humana, social e política do ser, a partir do seu quintal, como dizia Tolstoi, é o que tenho feito deste que rascunhei as primeiras palavras, ainda na sala de visitas da nossa casa em Santo Antônio do Salgueiro, nas bancas de estudo do Colégio Salesiano do Sagrado Coração de Jesus ou já maduro na redação deste Diario de Pernambuco, onde me transformei num jornalista sério e dedicado, empenhado na defesa da sociedade, sobretudo naquela sociedade de invisíveis, de que falamos tanto.
Uma trajetória de que me orgulho muito - com obras traduzidas em pelo menos dez países,  apesar das tristezas e desencontros,  alegrias e exaltações – e me envaideço; sim, me envaideço. É o resultado de muito trabalho, esforço, empenho, dedicação. Desde aquela sala de visitas a que me referi até os ásperos tempos da maturidade com direito a um AVC doloroso já com doze anos de sequelas, tratamentos, fisioterapias e adjacências.
Para celebrar minha carreira dita vaidosa, o meu grande amigo José Castello acaba de incluir meu retrato-perfil  entre os 17 retratos de grandes escritores no livro Inventário das Sombras, (Editora Record), ao lado de José Saramago, Dalton Trevisan, Nelson Rodrigues, Clarice Lispector, João Gilberto Noll, Caio Fernando Abreu, Manoel de Barros, Raduan Nassar, os gigantes. O que levou Sidney Rocha a declarar que Castello me conduziu ao panteão da literatura brasileira. Vaidade, sim, vaidade. Eu me envaideço das coisas boas que fiz e faço, mas, de propósito esqueço os erros. Que erros? Sim, eles existem e são enormes. 
Estou seguro de que é mais, muito mais do que uma homenagem, porque Castello, o biógrafo de Vinicius de Moraes e Pelé, é um escritor extremamente sério, correto, digno, não estragaria a sua obra, apenas para homenagear  um amigo sem méritos. Mesmo assim, para ser amigo  deste grande escritor carioca é preciso ter méritos. E parece que os tenho. Aí Castello desmente toda esta fantasia de vaidade, diz que Carrero prefere o ofício à glória.