Tiradentes, herói nacional!

Emanuel Dias
Ex-reitor da UPE, diretor e professor da FOP/UPE, membro da Academia Brasileira de Odontologia e membro da Academia Pernambucana de Ciências

Publicação: 19/04/2024 03:00

A história universal é narrada na perspectiva de quem a escreve, e de como é propagada. O Brasil comemora o dia 21 de abril a inconfidência mineira, título fiel à narrativa portuguesa, que comete grande injustiça aos fatos históricos, do ponto de vista brasileiro. A palavra “inconfidente” é utilizada para se referir a um traidor, a uma pessoa desleal, infiel. Na perspectiva portuguesa, todos os que se voltaram contra Portugal eram traidores, inconfidentes, e assim erroneamente passaram para a história do nosso país. A narrativa contemporânea exige coerência. Para fazer jus à magnitude do fato histórico, deveria ser categorizado como um movimento de caráter republicano e separatista que aconteceu entre 1789 e 1792 em Minas Gerais.

O principal antecedente histórico da insurreição mineira foi o aumento de taxas e impostos da Coroa Portuguesa para a capitania de Minas Gerais, que estava recebendo muita atenção devido à quantidade de ouro e diamantes presente. Aglutinou os membros de uma elite local de Minas Gerais. Joaquim José da Silva Xavier, Patrono da Odontologia Brasileira, nasceu em Minas Gerais, em 12 de novembro de 1746 e deixou um grande legado à Odontologia brasileira; lutar pela pátria livre e por melhores condições de vida. Por ter perdido precocemente seus pais, foi criado pelo seu tio e padrinho, que o ensinou o ofício de Cirurgião-Dentista.

A história do Brasil está, como de diversos outros países, cheia de heróis que sucumbiram defendendo causas de importâncias sociais ou libertárias. Tiradentes, um desses heróis, foi morto e esquartejado, traído por um companheiro que participava dos mesmos ideais libertários. Barbosa Lima Sobrinho definiu o homem, no Brasil, como o que vai à luta e vence os que traem, porque os traidores sucumbem aos poderes ou não têm coragem de vencer seus medos. Nesse contexto, o processo de colonização brasileiro gerou uma sociedade oportunista. Essa maneira de dominação violenta, física e moralmente, do poder, é passada de geração para geração, reflexo dos males da colonização que deixaram os efeitos de apaziguar o povo, onde se valoriza o “Poder Senhor”, de forças humilhantes que inibem de viver, pois a humilhação do apaziguamento é tão forte que mantém o indivíduo submisso ao dominador, este o amedronta a ponto de fazê-lo fugir de seus ideais e compromissos para servi-lhe. O traidor da Inconfidência mineira corrobora a reflexão dos ideais da revolução francesa, dos ideais iluministas: liberdade, igualdade e fraternidade.

Ontem, como hoje, escreveu Stefan Zweig, sobre o político francês Joseph Fauchè: traidores permeiam os ambientes democráticos, raramente são as figuras superiores, as pessoas das ideias puras que decidem, e sim, uma categoria muito inferior, mais hábil. Como Joseph Fouché ou Joaquim Silvério dos Reis, vários traidores permeiam nosso coletivo, intrigantes, miseráveis, répteis escorregadios, desertores profissionais, almas pequenas, amorais deploráveis. Um tirano sempre encontra um pretexto para sua tirania, dizia Esopo em uma de suas fábulas.

O fim da insurreição mineira se deu com as denúncias de algumas pessoas que sabiam das conspirações, entre eles, Joaquim Silvério dos Reis, ex-insureto. Com isto, foram abertos processos contra os acusados. Ao entregar os inconfidentes à Coroa Portuguesa, com a qual estava em débito, Silvério dos Reis teve sua dívida perdoada. Fez uma delação premiada, e como benefício, não pagou suas dívidas à Fazenda Real. Foi a mais célebres de delação premiada no Brasil, embora não tenha sido a primeira. Ao longo dos séculos, a reação da opinião pública a delatores e delatados variou, mas a prática da delação de antigos aliados em troca de benefícios, inaugurada no Brasil Colônia, avançou pela história e está mais viva do que nunca no período republicano. Todos escrevem sua história e lamentavelmente, os traidores são lembrados por traírem as grandes causas sem coragem para enfrentamento. A história não os poupará. Viva o herói Tiradentes, patrono da Odontologia Brasileira!