Intimidade Artificial. Seu filho será íntimo de um robô

Jaime Ribeiro
CEO da Educa e Pesquisador do impacto da tecnologia nas relações humanas.

Publicação: 27/06/2024 03:00

Recentemente uma amiga me contou, com algum espanto, que seu filho aprendeu a falar “Alexa” antes mesmo de palavras como “vovô” ou “vovó”. Esta história me inspirou algumas reflexões sobre o futuro das relações humanas.

Em 2013, o filme “Her”, estrelado pelo talentoso Joaquin Phoenix, contou a história de um solitário escritor que se apaixona pelo novo sistema operacional do seu computador, desenvolvendo uma relação profunda e sensível com essa “entidade” chamada Samantha.

Já no livro “Klara e o Sol”, o autor Kazuo Ishiguro conta a história da relação entre Josie e Klara, uma Amiga Artificial que as crianças ganham  de seus pais para que não se sintam solitárias.

Mas a criação de intimidades entre a IA e o ser humano já não está restrita às obras de ficção científica. Ainda nos primeiros meses após a popularização do Chat-GPT, foi noticiado que jovens estavam utilizando a ferramenta como uma espécie de terapeuta. Isso significa que, antes mesmo da discussão necessária sobre como essas ferramentas conversacionais vão lidar com nossos dados sensíveis, muita gente já se sentia à vontade para compartilhar suas angústias e seus traumas com um robô.I.

Gente, a verdade é que desde a popularização da internet, temos percebido que as novas gerações parecem ter mais facilidade de se relacionar com pessoas com quem nunca tiveram um contato presencial - mas com as quais compartilham um interesse em comum- do que com seus próprios familiares.

Se uma tecnologia como o waze afetou a nossa capacidade de direção, a IA Generativa será capaz de mudar o que chamamos de afeto?

Para além dos nossos conhecimentos técnicos, ou hard skills, que podem ser afetados pela falta de prática, também existe o risco de que muitas pessoas deixem de desenvolver suas soft skills. É que quando o principal referencial de interação de alguém é uma IA pronta para atender seus comandos, corre-se o risco de que essa pessoa perca a sensibilidade para as necessidades dos outros seres humanos.

Mais do que isso, com o tempo, é provável que muitas pessoas tenham uma relação de mais confiança com uma IA do que com as pessoas que estão por perto.

Neste mundo onde a produção de arte, cultura deixam de ser humanos protagonizados por seres humanos e passam a ser exercidos pela IA, as nossas próprias opiniões, valores e visões de mundo estão em cheque.

Porque talvez estejamos diante de uma geração que terá uma relação de súdito fanático com a tecnologia.

E nessa realidade, o like será o novo amém. E comprar será a redenção dessa nova geração.

Por hora, não se assuste tanto. Precisamos estar preparados para um futuro não muito distante, no qual  nossos filhos se relacionarão com robôs de uma maneira que muitos pais terão dificuldade de compreender.

Perceba que já não estamos tão distantes deste mundo.