Maloqueiros

Alexandre Rands Barros
Economista

Publicação: 06/07/2024 03:00

Maloqueiro originalmente denominava os habitantes das malocas. Entre os índios, as malocas eram grandes casas onde viviam várias pessoas, não apenas famílias nucleares dentro do padrão cristão ocidental. No processo de destruição da cultura indígena, o termo maloca passou a ser utilizado para definir habitações de favelas ou de aglomerados subnormais, no conceito do IBGE. Nesse contexto, passou a se denominar de maloqueiros os jovens de periferia, residentes nesses agrupamentos sociais. Geralmente, possuíam baixo nível de instrução e comportamento fora dos padrões sociais elogiáveis. Também se tornou comum associar-se a eles a falta de subordinação às regras sociais e o oportunismo, de sempre buscar situações que os beneficiam, sem muitos escrúpulos éticos e morais nas escolhas delas. O termo maloqueiro é pejorativo e, geralmente, se refere a alguém que vive na marginalidade, associado a um comportamento desordeiro, incivilizado ou, até criminoso. Pode ter conotações relacionadas à violência e à desordem.

Dificilmente a qualificação de maloqueiro hoje se enquadre mais a alguém do que ao nosso ex-presidente. Quando era vantagem se associar aos militares, ele o fez para obter votos e apoio institucional (oportunismo). Mas, se também compensava se associar aos milicianos, agarrou-se a eles com satisfação, promovendo-os e obtendo as vantagens que podiam proporcionar, como melhoria da qualidade de vida (comportamento desordeiro, incivilizado ou até criminoso). Nesse contexto, não desperdiçou a oportunidade de se associar à violência e à desordem ao incentivar a desobediência a decisões do Judiciário (falta de subordinação a regras sociais). Sempre gostou de prazer, por isso sempre cultivou imagem de postura promíscua. Mas se o beneficiaria aparecer como religioso também, por render votos e apoio político, não hesitou em apresentar-se como tal. Se segmentos importantes da sociedade estão escandalizados com a corrupção, passou a lutar contra ela como se nunca tivesse se envolvido em nenhum tipo de desvio dessa natureza, como rachadinhas, utilização indevida de verbas direcionadas do Congresso Nacional e, recentemente, desvio de patrimônio da União para venda sem nota fiscal. Ou seja, ele possui todos os atributos dos chamados maloqueiros.

Uma diferença fundamental entre os maloqueiros jovens das periferias e o nosso ex-presidente é que os primeiros arregimentam muito poucos seguidores, especialmente entre devotos religiosos. O oportunismo dos líderes evangélicos, que na sua maioria só pensa em dinheiro, fez com que Bolsonaro fosse muito bem recebido pelos seus seguidores de fé, mesmo com todas essas bem conhecidas contradições em relação aos padrões ético-morais elevados. A liderança do ex-presidente, promovida por esses religiosos e militares, corroeu o tecido social brasileiro, tornando as pessoas mais oportunistas, menos altruístas e preocupadas apenas com se darem bem, mesmo que em detrimento dos outros. Vivemos uma verdadeira era dos maloqueiros em nosso país.