Hoje é Sexta-feira 13, mas daqui a pouco é Natal!

Alexandre Acioli
Jornalista, pesquisador de Folkcomunicação e produtor cultural

Publicação: 13/12/2024 03:00

O último mês de 2024 traz um presente nada interessante para os supersticiosos: uma sexta-feira 13 antecedendo a chegada do Natal. Para os parascavedecatriafobos ou frigatriscaidecafobos (aqueles que têm medo dessa data), hoje é um dia de medo e de preocupação excessiva com a segurança. Há quem evite cortar unhas ou cabelo neste dia; outros fazem de tudo para não deixar cair no chão a escova ou o pente.

Muitas teorias (não científicas) que tornaram a sexta-feira 13 sinônimo de má sorte, remontam a séculos e estão fortemente influenciadas por países europeus. Frequentemente os brasileiros associam a data a forças sobrenaturais, que influenciam negativamente o mundo dos vivos. Um antigo dito popular até aconselha: “Na sexta-feira 13, não se case e nem viaje”.

E não são poucos os supersticiosos. Uma pesquisa do Instituto Brasileiro de Opinião Pública e Estatística (Ibope), realizada em 2013, apontou que 21% dos entrevistados consideravam a sexta-feira 13 um dia de má sorte. Já um levantamento da Fundação Getúlio Vargas (FGV), de 2019, indicou que 15% dos brasileiros acreditavam nessa crendice. Nos Estados Unidos, também pensam do mesmo jeito 12% da população.

A fobia é resultado de uma superstição que associa a data a eventos trágicos. O filme Sexta-feira 13 (1980), do diretor Sean Cunningham, que deu início à lenda de Jason Voorhees, o terror do acampamento de Crystal Lake, contribuiu para popularizar ainda mais o horror à data.

No livro Superstição no Brasil (1985), o etnógrafo e folclorista Luís da Câmara Cascudo explora as raízes históricas, culturais e sociais dessa e de outras crendices, hábitos e costumes que influenciam no cotidiano dos brasileiros.

A má fama dessa data, ou apenas o temor do número 13 (triscaidecofobia) é desconhecida, mas se apresentam muitas versões, de origens religiosas e culturais, para justificar esse medo. Apesar de o calendário com 12 meses lunares, de 30 dias, só ter sido criado pelos povos mesopotâmicos por volta de 2700 anos antes de Cristo, há quem garanta que “no começo de tudo”, Adão e Eva comeram o fruto proibido da Árvore do Conhecimento numa sexta-feira 13, a mesma data em que a Arca de Noé zarpou no Grande Dilúvio e o dia em que o Templo de Salomão foi derrubado.

No século VII antes de Cristo, Hesíodo registrou no seu livro “Os trabalhos e os dias” a recomendação de não se plantar no 13º dia. No capítulo 13 do Livro de Apocalipse, o autor descreve a besta, com “sete cabeças e dez chifres”, como a responsável pelo fim dos tempos. Na numerologia o 13 é tido como um número irregular, sinal de infortúnios. No Tarô, a carta 13 representa a morte.

Há ainda o registro da prisão e execução dos seguidores da Ordem dos Pobres Cavaleiros de Cristo e do Templo de Salomão (Cavaleiros Templários), acusados de heresia, na sexta-feira, 13 de outubro de 1307, na França. Na história do Brasil, uma sexta-feira 13, de 1968, foi a data em que o governo militar decretou o AI-5, de tristes lembranças, como a suspensão dos direitos e garantias políticas da população.

Mas esqueça essa história de “dia de azar”. Você está vivendo na era da Inteligência artificial (IA), da Machine Learning,  de tecnologias como Realidade Aumentada (AR), Realidade Virtual (VR), Realidade Mista (MR) e outras que se tornaram extensão do cérebro humano. Nesse novo tempo não dá para supervalorizar a preocupação com uma simples sexta-feira 13. No entanto, se você continua inseguro, antes de sair de casa consulte o horóscopo, coloque um saquinho com sal grosso no bolso e um raminho de arruda atrás da orelha.