Zuckerberg e a soberania digital

Rafael Torres
Doutor em Direito Constitucional

Publicação: 24/01/2025 03:00

Mark Zuckerberg, CEO da Meta, fez declarações recentes que geraram debates sobre como a empresa lida com questões como moderação de conteúdo, proteção de dados e leis locais. Para advogados e reguladores, essas declarações levantam dúvidas sobre a soberania digital, conceito que trata do controle que os Estados têm sobre infraestruturas e dados digitais em seus territórios. No cenário atual, o poder global das grandes plataformas torna desafiador para os Estados garantir que suas leis sejam cumpridas por multinacionais como a Meta

A Meta, responsável pelo Instagram e WhatsApp, alcança bilhões de usuários em diversas jurisdições. Suas escolhas sobre moderação de conteúdo, coleta de dados e colaboração com autoridades impactam privacidade, segurança e liberdade de expressão. Declarações recentes sugerem que a empresa priorizará suas políticas internas e a experiência do usuário em detrimento das regulamentações locais, colocando em risco a soberania digital de países.  

Um dos principais pontos de tensão é a moderação de conteúdo. Diferentes países possuem regras específicas sobre o que pode ser publicado, muitas vezes com restrições severas. Por exemplo, a Lei de Segurança Nacional da China exige um rigoroso controle sobre o conteúdo publicado, enquanto a União Europeia possui regras claras sobre a proteção de dados pessoais e combate ao discurso de ódio. Quando Zuckerberg afirma que a Meta pode continuar a adotar políticas próprias, ele está implicitamente desafiando a autoridade dos Estados em regular o que é veiculado nas plataformas digitais dentro de seus territórios. Para advogados especializados, isso é um convite ao questionamento da eficácia das legislações nacionais quando confrontadas com o poder das Big Techs.

Outro ponto é a proteção de dados pessoais. A coleta em massa de informações pela Meta, frequentemente sem o consentimento explícito dos usuários, levanta preocupações. Leis como o GDPR, na União Europeia, e a LGPD, no Brasil, exigem práticas transparentes e seguras no tratamento de dados. Contudo, a Meta é frequentemente acusada de violar essas normativas, dificultando a aplicação local das leis e comprometendo a privacidade dos cidadãos. Para advogados, a postura da empresa representa um desafio à fiscalização e à soberania digital.  

A atuação global da Meta também intensifica a dificuldade de regular grandes plataformas, criando um cenário de incerteza jurídica. Suas políticas muitas vezes ultrapassam fronteiras, gerando conflitos entre leis locais e diretrizes corporativas. Assim, nossa equipe especializada no direito digital, enfrenta o desafio de proteger direitos enquanto buscam a aplicação das legislações nacionais. A postura da Meta de seguir suas próprias regras obriga os Estados a escolher entre flexibilizar a regulamentação ou impor medidas rígidas contra as Big Techs.  

Por fim, a desinformação e o discurso de ódio são temas sensíveis. Governos pressionam por maior controle sobre conteúdos nocivos, mas Zuckerberg argumenta que regulamentações severas podem comprometer a liberdade de expressão. Na condição de advogado, o equilíbrio entre regular a informação e proteger direitos é um dos maiores desafios, exigindo atenção caso a caso.  

Em síntese, as declarações de Zuckerberg revelam o impacto das Big Techs sobre a soberania digital, gerando incertezas jurídicas. Empresas como a Meta avançam mais rápido que as legislações locais conseguem acompanhar. Cabe aos advogados formular estratégias para proteger direitos, garantir a aplicação das leis e preservar a soberania digital, enquanto reguladores e governos buscam formas de lidar com o domínio crescente dessas empresas.