Maria Arraes
Advogada e deputada federal
Publicação: 13/08/2025 03:00
Eu só tive noção do tamanho que Miguel Arraes tinha no dia do seu enterro. Eu era uma criança de 11 anos e, para mim, ele era apenas o meu avô, aquela figura serena, sentado em sua cadeira, sempre com o cheiro de charuto no ar.
Com o tempo, fui entendendo que vovô era muito mais do que isso. À medida que crescia, ouvi histórias que ampliaram minha visão. Hoje, como deputada federal, vejo esse legado se revelar em cada cidade que visito, em cada feira livre por onde passo. Sempre há alguém que me chama para contar um causo, um discurso, uma lembrança. Todas mostram o quanto ele foi grande, humano e presente na vida do povo.
Essa memória coletiva também está registrada em vários livros, entre eles: Histórias de Lá e de Cá, escrito pelo jornalista Ítalo Rocha e pelo meu tio Lula Arraes. A obra traz episódios curiosos, como o do engenheiro Apolo Albuquerque, militante contra a ditadura, que certa vez, após uma noite nos bares do Recife, parou em frente ao antigo Quartel do IV Exército, no Parque 13 de Maio, e gritou: “Viva Arraes!” Para sua surpresa, os soldados bateram palmas e repetiram o grito. Era o respeito atravessando até os muros da repressão. Outro momento marcante está em sua entrevista ao programa Roda Viva, logo após retornar do exílio. Quando perguntado o que era política, respondeu sem hesitar: “Política é força.” Uma resposta simples, mas carregada de toda a sua história de luta. Ao perceber que se completam 20 anos desde sua partida, senti a urgência de lembrar e comemorar quem foi Miguel Arraes. Em tempos tão difíceis, relembrar sua trajetória é um ato de resistência.
Hoje, vivemos ataques à democracia, à soberania, às instituições. Tentam desacreditar nosso sistema eleitoral, enfraquecer o Estado, dividir o povo. Arraes enfrentou tudo isso em sua época com coragem e compromisso. Sua resposta era ação: levou luz com o programa de eletrificação rural, ajudou famílias com o programa Vaca na Corda, instalou bombas d’água no quintal de trabalhadores, alfabetizou com o Movimento de Cultura Popular, apoiou agricultores com o Chapéu de Palha, distribuiu medicamentos pelo Lafepe. No seu primeiro mandato como governador, criou também o Acordo do Campo, iniciativa que reuniu usineiros e trabalhadores da cana-de-açúcar em uma mesma mesa de negociação e garantiu direitos fundamentais como carteira assinada, salário regular, férias e 13º.
Mas sua atuação não se resumia aos programas e políticas públicas, ela se refletia também no cotidiano, na forma como se fazia presente e próximo das pessoas. Era também presença nas feiras, no uísque degustado com calma, na voz rouca, nos olhos claros, sempre atentos e generosos.
E ao seu lado, sempre, minha avó, Mada Arraes. Parceira incansável, construiu políticas públicas inovadoras como primeira-dama, mas é lembrada mesmo pela doçura com que tratava as pessoas. Uma força silenciosa e essencial na história dele e na nossa.
Meu avô acreditava que o Brasil era capaz de se transformar. E deixou isso claro em palavras que ainda nos comovem e nos movem: “Somos um povo que começa a aceitar suas matrizes étnicas e culturais... A revolução brasileira nada mais é do que o esforço de todo um povo para superar essas condições de atraso e de miséria.”
Vinte anos depois, Arraes permanece presente. Vivo nas ideias, nas ações, nos olhos de quem se lembra. Meu avô virou história. Mas, sobretudo, virou povo.
Com o tempo, fui entendendo que vovô era muito mais do que isso. À medida que crescia, ouvi histórias que ampliaram minha visão. Hoje, como deputada federal, vejo esse legado se revelar em cada cidade que visito, em cada feira livre por onde passo. Sempre há alguém que me chama para contar um causo, um discurso, uma lembrança. Todas mostram o quanto ele foi grande, humano e presente na vida do povo.
Essa memória coletiva também está registrada em vários livros, entre eles: Histórias de Lá e de Cá, escrito pelo jornalista Ítalo Rocha e pelo meu tio Lula Arraes. A obra traz episódios curiosos, como o do engenheiro Apolo Albuquerque, militante contra a ditadura, que certa vez, após uma noite nos bares do Recife, parou em frente ao antigo Quartel do IV Exército, no Parque 13 de Maio, e gritou: “Viva Arraes!” Para sua surpresa, os soldados bateram palmas e repetiram o grito. Era o respeito atravessando até os muros da repressão. Outro momento marcante está em sua entrevista ao programa Roda Viva, logo após retornar do exílio. Quando perguntado o que era política, respondeu sem hesitar: “Política é força.” Uma resposta simples, mas carregada de toda a sua história de luta. Ao perceber que se completam 20 anos desde sua partida, senti a urgência de lembrar e comemorar quem foi Miguel Arraes. Em tempos tão difíceis, relembrar sua trajetória é um ato de resistência.
Hoje, vivemos ataques à democracia, à soberania, às instituições. Tentam desacreditar nosso sistema eleitoral, enfraquecer o Estado, dividir o povo. Arraes enfrentou tudo isso em sua época com coragem e compromisso. Sua resposta era ação: levou luz com o programa de eletrificação rural, ajudou famílias com o programa Vaca na Corda, instalou bombas d’água no quintal de trabalhadores, alfabetizou com o Movimento de Cultura Popular, apoiou agricultores com o Chapéu de Palha, distribuiu medicamentos pelo Lafepe. No seu primeiro mandato como governador, criou também o Acordo do Campo, iniciativa que reuniu usineiros e trabalhadores da cana-de-açúcar em uma mesma mesa de negociação e garantiu direitos fundamentais como carteira assinada, salário regular, férias e 13º.
Mas sua atuação não se resumia aos programas e políticas públicas, ela se refletia também no cotidiano, na forma como se fazia presente e próximo das pessoas. Era também presença nas feiras, no uísque degustado com calma, na voz rouca, nos olhos claros, sempre atentos e generosos.
E ao seu lado, sempre, minha avó, Mada Arraes. Parceira incansável, construiu políticas públicas inovadoras como primeira-dama, mas é lembrada mesmo pela doçura com que tratava as pessoas. Uma força silenciosa e essencial na história dele e na nossa.
Meu avô acreditava que o Brasil era capaz de se transformar. E deixou isso claro em palavras que ainda nos comovem e nos movem: “Somos um povo que começa a aceitar suas matrizes étnicas e culturais... A revolução brasileira nada mais é do que o esforço de todo um povo para superar essas condições de atraso e de miséria.”
Vinte anos depois, Arraes permanece presente. Vivo nas ideias, nas ações, nos olhos de quem se lembra. Meu avô virou história. Mas, sobretudo, virou povo.