Marina Silva: "golpe" banalizado Ex-senadora, que defende a realização de novas eleições presidenciais, afirmou que a palavra está sendo utilizada de forma equivocada

Publicação: 30/04/2016 03:00

A ex-senadora Marina Silva (Rede Sustentabilidade) rechaçou ontem a afirmação do vice-presidente Michel Temer de que a antecipação das eleições seria um golpe, palavra que, declarou, está sofrendo um processo de “banalização”. Ao defender a realização de novas eleições presidenciais, após o possível impeachment da presidente Dilma Rousseff, Marina negou que seja motivada por interesse pessoal ao fazê-lo. Ela também criticou Temer por ter, durante muito tempo, participado do governo Dilma sem criticá-lo.
“As pessoas estão banalizando algo que foi muito traumático na história do país. A ditadura, essa, sim, golpeou a nossa democracia. Daqui a pouco, a criança pega a bala da outra no recreio e se usa a palavra ‘golpe’. Hoje o TSE tem elementos trazidos pela Lava-Jato que dão base para um julgamento da chapa Dilma-Temer. Os indícios estão mais do que evidentes de que o dinheiro do ‘petrolão’ foi usado para alterar a vontade soberana da sociedade brasileira na eleição. Uma nova eleição a partir de um julgamento do TSE, que terá que se ater aos autos, não tem nada a ver com golpe”, afirmou a ex-senadora.
Segundo Marina, “só uma nova eleição poderá estabilizar o país, dar credibilidade e legitimidade para uma agenda de transição”. “A minha posição é a de insistir numa nova eleição pelo caminho do processo no Tribunal Superior Eleitoral”, afirmou Marina, terceira colocada nas eleições de 2014. Marina não disse, porém, se seria candidata em novas eleições presidenciais.
“Ninguém pode falar em candidatura antes de devolver aos cidadãos a possibilidade de votar. Quando comecei a defender a tese, sozinha, isoladamente, eu (nem) sequer podia ser candidata, porque a lei exigia que tivesse um ano de filiação, e eu tinha acabado de me desfiliar do PSB. Quem mudou a lei para seis meses, de forma casuísta, não fui eu. Como é que alguém pode achar que tenho vantagem, se mudaram a lei de encomenda para prejudicar o partido do qual faço parte? Para o meu partido poder ingressar no cenário político brasileiro, ficou apenas com doze segundos de televisão e um fundo partidário incomparavelmente menor. (Nem) Sequer poderei participar de debates. Defendo as novas eleições por convicção”, disse.
No Rio para o Congresso Mundial de Direito Ambiental, Marina afirmou que nunca viu o vice-presidente criticar o governo do PMDB com o PT e da presidente Dilma. “Eu convivi com o vice-presidente José Alencar (durante o governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, de 2003 a 2010), e ele manifestava o posicionamento dele quando não concordava. Nunca vi crítica do PMDB, pelo contrário. O PT e o PMDB são faces da mesma moeda. Com a comprovação do uso do dinheiro, toda a chapa seria cassada e devolver-se-ia aos 200 milhões de brasileiros a possibilidade de um novo pacto para sair da crise.”
Marina comentou o possível programa de governo de Temer, que preveria privatizações em massa. “Essa discussão de ‘Estado máximo’ e ‘mínimo’ está em todas as eleições no Brasil.”
A ex-senadora conclamou a sociedade brasileira a se engajar num novo projeto de Brasil. “O que também levou o país a essa situação é só ficar pensando em quem são as candidatos, os aliançados (sic), quais são os recursos, quem é o marqueteiro, em vez que pensar o que é melhor para o país. Defendo que a luta por uma nova eleição seja acompanhada por um movimentação da sociedade apresentando as diretrizes mais importantes para sairmos da crise.” (Da Agência Estado)