SDS explica cancelamento de perícia papiloscópica Defesa Social convocou coletiva para esclarecer investigação da morte de Paulo César Morato

Aline Moura
alinemoura.pe@dabr.com.br

Publicação: 28/06/2016 03:00

Gleide relatou como ocorreu a coleta de provas no motel onde corpo foi encontrado (PEU RICARDO/ESP.DP)
Gleide relatou como ocorreu a coleta de provas no motel onde corpo foi encontrado
“Uma falha de comunicação” na equipe que começou a investigar a morte do empresário Paulo César Morato, foragido da Operação Turbulência, levou a Secretaria de Defesa Social a realizar, ontem, uma operação de guerra para evitar especulações de que haveria falta de transparência no caso. Segundo o secretário executivo da pasta, Alexandre Lucena, não houve má-fé quando a gerente-geral de Polícia Científica, Sandra Santos, cancelou uma perícia papiloscópica complementar que seria feita na quinta-feira passada, dia seguinte ao corpo ser encontrado num motel da Avenida Perimetral, em Olinda.

Segundo a SDS explicou ontem, o perito papiloscopista Lauro Macena chegou ao local e não pode colher as digitais de todos os ambientes. No quarto onde estava o corpo, havia funcionários do motel, policiais civis da delegacia do Varadouro e policiais militares, que foram acionados porque havia suspeita de morte natural e não homicídio. Os policiais da Força-Tarefa, responsáveis por investigar homicídios, chegaram quase duas horas depois no motel, por volta das 20h50, incluindo a delegada Gleide Ângelo. A equipe recolheu dois copos e uma garrafa de água mineral do quarto e teve de retirar o corpo do saco para examiná-lo.

Lauro Macena disse que falou verbalmente para Gleide e para a perita criminal Vanja Coelho que havia necessidade de uma perícia complementar, como aconteceu no caso do professor Betinho, cuja morte foi desvendada a partir de digitais em um ferro de engomar e um ventilador. Gleide e Vanja, contudo, explicaram que o ambiente estava muito barulhento e não ouviram o pedido de Lauro, que é visivelmente tímido e fala muito baixo. Para se ter uma ideia, os repórteres presentes na coletiva tiveram dificuldade de escutá-lo, mesmo ele falando no microfone.

Gleide explicou que, quando a Força-Tarefa chegou ao motel, o corpo do empresário já havia sido ensacado e já estava sendo levado para o IML. Segundo ela, o motivo era que, inicialmente, a vítima não tinha identidade e ninguém sabia que se tratava de Paulo César Morato, que possuia em conta R$ 24,5 milhões e era, de acordo com a Polícia Federal, um dos “testas de ferro” de empresas que desviavam recursos para campanhas políticas de Pernambuco e de outros estados do Nordeste. A polícia do Varadouro não enxergou sinais de violência, não encontrou armas, nem sangue.

A descoberta da identidade de Paulo César aconteceu depois de o ambiente ser “contaminado”, de acordo com a polícia. Com a falha de comunicação, Vanja Coelho liberou o local, enquanto Lauro comunicou ao dono do hotel que haveria novas perícias para se colher digitais. Os peritos foram ao motel no dia seguinte - ele estava isolado - e Sandra deu uma contra ordem, frisando que as investigações no ambiente já haviam sido concluídas. Foi assim que gerou o desentendimento de informações.

A delegada Gleide disse que houve desencontro. Depois de iniciar as investigações da morte de Morato, ela foi comunicada de outro homicídio em Cruz de Rebouças e, como estava de plantão na Força-Tarefa, seguiu para o outro caso. Por volta das 3h, quando voltou à sede do DHPP, Gleide começou a preencher os documentos referentes ao dia 22, porque não teve tempo de parar antes, mas saíram com a data do dia 23 (já era madrugada).

Entrevista Gleide Ângelo  //  Delegada

Conhecida em Pernambuco por solucionar crimes impossíveis, como os homicídios de Jennifer Kloker, Alice Seabra e Narda Bionde, a delegada Gleide Ângelo se comprometeu, ontem, a esclarecer a morte do empresário Paulo César Morato, que era um “testa de ferro” de um esquema que desviou R$ 600 milhões de recursos públicos para campanhas políticas no estado e no Nordeste, segundo a Polícia Federal. Gleide participou de uma coletiva na Secretaria de Defesa Social ontem para tentar elucidar dúvidas sobre o caso. Confira a entrevista abaixo da delegada Gleide Ângelo.

Delegada, houve uma polêmica porque a senhora preencheu documentos com a data do dia 23, um dia depois da morte. Os peritos foram ao local onde o corpo foi encontrado e tiveram de voltar.
Fomos para esse local “de morte a esclarecer”, como de praxe, e a gente só faz um oficio quando a gente retorna. Quando tem uma morte, a gente tem que correr, não pode se preocupar com a formalidade... Quando a gente retorna, começa a fazer as peças, faz o Boletim de Ocorrência e outras coisas… O meu BO foi feito às 3h da manhã, porque eu havia ido para outro homicídio. Às 3h, foi quando eu fiz um ofício para o Instituto de Criminalista, um ofício para Instituto Tavares Buril, do caso do dia 22, solicitando perícia local que tinha sido feita. Só que quando eu cheguei foi de madrugada, eu fui para um homicídio em Cruz de Rebouças, eu emendei, tanto é que os ofícios saíram com a mesma data.

Então não disse que a perícia tinha que continuar?
O corpo estava totalmente violado quando a gente chegou. O corpo já estava dentro do saco, os peritos do IC entraram, fizeram todas as perícias, eu fiquei do lado de fora. Quando terminou, a perita criminal Vanja Coelho disse: “Perícia terminada, local liberado”. Eu sai na frente, porque tinha outro homicídio e eles foram… Então, não havia necessidade, segundo a minha ótica, de novas perícias porque o que a gente precisava já tinha: os copos (dois), a garrafa a qual o morto poderia ter pego, porém milhões de pessoas entraram naquele quarto, pessoas do hotel, PMs, pessoal do IML, pessoal do plantão. Nem o corpo do morto eu vi porque já estava dentro do saco.

Quais as perícias que restam na investigação?
Então, as perícias que nós precisávamos estão sendo feitas e sendo concluídas. A perícia do IML, a tanatoscópica, aquela que define a causa da morte, a perícia toxicológica, a perícia do ITB, tudo isso foi feito. A gente está esperando chegar tudo, para vocês que conheçam o nosso trabalho com a maior transparência. Nós vamos chamar todos vocês e explicar perícia por perícia. Para que vocês saibam se ele morreu de morte natural, se foi homicídio ou suicídio. No final da investigação, nos comprometemos a divulgar tudo o que aconteceu naquela noite.